Ancorado no tema “Por dentro do verso: o Cordel em perspectiva”, o programa Conexões Literárias deste mês conversa com o escritor Damião de Andrade Lima, autor do livro Redes de Poesia, recém-lançado pela Cepe, e com a editora Ana Ferraz, da Coqueiro Editora, especializada em cordel. A literatura dos folhetos é Patrimônio Cultural Imaterial desde 2018, porém ainda não é trabalhada devidamente nas escolas, nem é reconhecida como gênero literário pela academia, onde nunca houve nenhum representante do gênero popular e tipicamente nordestino e pernambucano. O bate-papo será mediado pelo coordenador de Literatura da Secult-PE/Fundarpe, Roberto Azoubel. Parceria entre a Secult-PE/Fundarpe e a Cepe, o Conexões Literárias acontece na próxima terça-feira (31), às 19h, nos canais da Cepe e da Secult-PE/Fundarpe, no YouTube. Um dos mais festejados da nova geração de poetas do sertão do Pajeú, Andrade Lima pretende abordar o surgimento da literatura de cordel e a sua importância no âmbito educativo, “no intuito de fomentar a nossa literatura, tornando-a cada vez mais sólida, ampla e valorizada, principalmente pelas políticas públicas, com projetos culturais”, declara Andrade Lima. Segundo o escritor, a escola é uma das principais portas de entrada para a arte e os artistas, através da poesia popular, “uma leitura prazerosa por meio do cordel”, diz o poeta.
Andrade Lima - Poeta
“A literatura de cordel é um veículo de comunicação de extrema importância para uma sociedade mais justa, formadora e plena, diante do cenário literário”, escreveu Andrade Lima na apresentação do livro Redes de Poesia. A obra integra o trio de títulos da Coleção Pajeú, que a Cepe Editora lançou em junho com o objetivo de difundir a poesia produzida naquela região do Estado, bem como a literatura de cordel: a Cepe publicou três cordéis que vão de brinde para o leitor que comprar um dos três títulos da coleção: “Meu eu sertanejo, Mesas de Glosas”, da 1ª Feira de Poesia do Pajeú, além do já citado “Redes de Poesia”. “Comadre Florzinha e o Caçador”, de Wellington Santos Rocha; “A Incrível História do Menino Mandacaru”, de Odilia Renata Gomes Nunes; e “Gênesis”, a origem do cangaço feminino, de Thaynnara Alice Queiroz Pessoa, são os três cordéis da promoção. As ilustrações foram criadas pelo gráfico, poeta e artífice Lourenço Gouveia. À venda nas lojas físicas e no site: www.cepe.com.br. Roberto Azoubel considera uma honra falar sobre o cordel. “A literatura de cordel é um universo muito particular, principalmente porque essa expressão se dá sobretudo no Nordeste brasileiro. É também um universo riquíssimo em todas as cadeias de que a literatura pode dispor, desde a criação até a mediação, já que muitos desses folhetos são lidos em feiras públicas”, declara o coordenador de Literatura da Secult-PE/ Fundarpe, que pretende esclarecer ao público como se encontra o cordel atualmente, quais as suas formas mais usuais, e como as escolas abordam esse fascinante gênero literário. Ana Ferraz, da editora Coqueiro, adianta que os professores não estão preparados para trabalhar essa literatura em sala de aula. Segundo ela, as escolas preferem chamar um cordelista para falar sobre o cordel. “As escolas estão presas a dois ciclos do cordel: o junino e o folclórico”, lamenta a editora, avaliando que é preciso, portanto, maior reconhecimento do cordel através de políticas públicas, editais culturais voltados para o cordel e espaços para discutir o gênero, que não é folclórico, ao contrário do que as escolas ainda difundem. “É preciso oferecer mais oficinas literárias para os educadores e tornar o cordel matéria obrigatória em sala de aula”, sugere a editora, ressaltando a importância atual do cordel institucional. “As empresas querem contar suas histórias na linguagem popular”, diz ela. Ana também analisa que não há espaço nas livrarias para o gênero literário nordestino e principalmente pernambucano. “Isso dificulta a cadeia produtiva, o xilogravador, os poetas, as editoras, o distribuidor”. Segundo Ana, as academias brasileiras de letras ignoram essa literatura, que não é reconhecida como gênero literário “criativo, inventivo e em consonância com o imaginário”. “Não há nenhum cordelista membro da academia”, destaca Ana, lembrando também a maior representatividade atual da mulher cordelista. “Ao longo de décadas, era uma literatura só para homens, apesar da cordelista pioneira, a paraibana Maria das Neves Baptista (1913-1994), que tinha que usar pseudônimo masculino”, ressalta Ana. Atualmente, segundo a editora, “temos dois tipos de cordelistas: os mais tradicionais, que mantêm todo o cuidado com a literatura do ponto de vista das origens, da forma fixa, e os contemporâneos, que trazem o cordel com formato diferenciado, folhetos mais curtos”, explica Ana, ressaltando as três formas fixas mais trabalhadas no cordel hoje: sextilhas, setilhas e os decassílabos”.
HISTÓRIA - Também conhecido como folheto ou literatura popular em verso, o cordel teve origem no século XVI, época do Renascimento na Europa, em que se popularizou o registro impresso de relatos orais. Seu nome se origina da forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para vendas em Portugal, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes.
Serviço:
Programa Conexões Literárias Por dentro do verso: o cordel em perspectiva, com Damião Andrade Lima, Ana Ferraz e Roberto Azoubel
Quando: 31 de agosto de 2021 (terça-feira), às 19h
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