Uma vaga-lembrança
Quando um laço se desata é porque o aperto do nó não foi suficiente para segurar o embrulho. Às vezes um abraço escapole por falta de um aperto a mais, e perdemos a cintura que estava dentro dele por negligência, descuido, ou talvez por razões que a própria razão desconhece.
Há coisas que não tem explicação, mas são reais, e é preciso ter a consciência que aquilo pode tomar volume, se agigantar e aí, não há rédea que segure um galope desembestado.
Tudo começa e termina quando tem que acontecer. Há começos que já nascem com o fim premeditado. Não me iludo muito com a eternidade das coisas. Prefiro a intensidade do momento, e se alguém me perguntar se já amei, direi que o passado foi o bastante para me convencer que todo amor quando começa, tem a ilusão que nunca terá fim, mas é só ilusão.
Saber envelhecer é uma dádiva. Tudo envelhece, inclusive o amor. Há os que se acostumam, se acomodam, e toleram-se mantendo a distância necessária entre o perto e o longe sem se preocupar com o fim. Mas há os que se eternizam, dissimulando os deslizes, escondendo as marcas, remediando as dores, disfarçando as cicatrizes e concertando os erros para que perdurem até que a morte os separe.
O mundo é um moinho; como diz uma antiga canção de Cartola. Uma roda gigante que gira sem sessar, e assim segue a humanidade. É preciso olhar o fronte com a espinha ereta e seguir adiante sem mágoas, sem ódio e sem rancor. É assim que penso que deveria ser, e assim será sempre a melhor forma de viver em paz.
Enquanto houver a esperança, enquanto alguma coisa se bulir no corpo, alguma ideia assanhar o juízo, e as imagens se mexerem à nossa frente, mesmo que embaçadas, vale a pena saber que toda maneira de amor vale a pena. Isso sim, deve ser uma constante.
As pessoas passam, os amigos ficam, os amores vão e vem, e levam e deixam marcas no passado, que com o tempo se dilui e tornam-se apenas uma vaga-lembrança.
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