Saudades Versos de Alexandre Morais Artes de Marcos Pê
Muitas mulheres me amaram E eu também as amei Mas por razões que eu não sei Todas me abandonaram Umas até retornaram Mas por virem sem vontade Foram com facilidade E por esse vai e vem Fiz do peito um armazém Pra empaiolar saudade
Algumas, algumas vezes Voltaram mais de uma vez Com muitas fiquei um mês E com poucas fiquei meses Mas meus costumes burgueses Eram pobres na verdade E o banco da mocidade Empresta, mas faz cobrança Fiz do peito uma poupança Pra depositar saudade
De apaixonado eu fiz fama Mas no amor só sofri E saudades já senti Três vezes da mesma dama Se ia, ficava o drama Ao voltar, com falsidade Trazia só a metade Da que veio no começo Fiz do peito o endereço Da morada da saudade
A saudade é troço ruim Pesado de carregar Poucos podem suportar E muitos pedem o fim Quem veio por onde eu vim Sofreu seca e tempestade E sabe que a liberdade Não é mar é uma ilha Fiz do peito uma rodilha Para o pote da saudade
Nessa vida o que se planta Nem sempre é o que se colhe Por mais que se adube e molhe Tem talo que não levanta Como eu, quem se encanta Com beleza e quantidade Esquece da qualidade E foi não foi quebra a cara Fiz do peito uma coivara Com garranchos de saudade
Quando só na noite fria Ainda escuto o barulho Que o silêncio do orgulho Grita na mente vazia Comprei tudo que eu queria Mas vendi a lealdade Comparado à mocidade Quem foi moto hoje é lambreta Fiz do peito caderneta Pro fiado da saudade
Como autêntico boêmio Em bares eu fiz pernoite E enquanto existisse noite Uma taça era o meu prêmio Agora sofro abstêmio No balcão da crueldade E o prêmio é uma grade Que o coração rodeia Fiz do peito uma cadeia Para aprisionar saudade
Na igreja eu pouco fui Nunca pisei num altar Porque pensava: casar Em nada nos evolui Mas a casa quando rui É outra a realidade E solidão quando invade A roda roda ao contrário E eu fiz do peito um rosário Só com contas de saudade
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