Amâncio de Siqueira Rosa e Ana de Siqueira Gonçalves
Alexsandro Acioly
(Pesquisador e Historiador - CPDOC/PAJEÚ)
Afogados da Ingazeira é conhecida no Pajeú por ter alguns filhos ilustres reconhecidos nacionalmente na arte das letras como é o caso do Monsenhor Arruda Câmara, Oscar de Campos Góes, Manoel Arão, Padre Luiz de Góes, e tantos outros que engrandecem o nome da cidade e consequentemente da região.
Mas uma descoberta que me deixou muito feliz aconteceu semana passada. Pesquisando alguns materiais para estudo me deparei com o nome de duas figuras ilustres, pai e filha, sendo homenageados na cidade de Parambu localizada na microrregião dos Inhamuns no interior do Ceará e a uma distância de 406 km da capital Fortaleza.
Estou falando das pessoas de Amâncio Siqueira Rosa e sua filha, Ana de Siqueira Goçalves que sairam de afogados da Ingazeira em meados da década de 1930 para fazer história nesta pequena vila que foi criada pela lei Nº 3338 de 15 de setembro de 1956 e instalado simbolicamente em 22 de outubro de 1956 e só em 1957 foi o município instalado oficialmente e realizadas as primeiras eleições municipais, precisamente a 04 de Agosto.
Segue abaixo textos transcritos:
Amâncio Siqueira Rosa
Amâncio Siqueira Rosa (Foto: Paulo Siqueira) |
Escola Amâncio Siqueira Rosa - Imagem/Internet |
A Escola é uma homenagem a um dos homens que construiu as bases para a fundação de Monte Sion, o senhor Amâcio Siqueira Rosa. Amâncio foi patriarca dos Siqueiras de Monte Sion, pai de Manoel Siqueira Rosa, Ana Siqueira Gonçalves e Isabel Siqueira Sousa. Nascido em 1876, no Pajeú - Pernambuco, casou-se duas vezes e teve ao todo 18 filhos, primeira família em Pernambuco e a segunda família no Ceará. Veio ao Ceará em 1936, comprou terras na localidade de Cipó-Tauá (Parambu ainda era uma vila de Tauá) e construiu a Fazenda Riacho Fundo. Vendeu parte das terras a Idelfondo Pedro de Sousa e o restante seus filhos herdaram, mas apenas Manoel, Ana, Isabel e Lídio ficaram em Monte Sion e tiveram grande descendência. Amâncio era um homem de muita fé, católico, nutria grande respeito por Padre Cícero. Quando sentiu que estava próximo a morrer em 1949, foi de Riacho Fundo a Juazeiro do Norte a pé, como penitência. Disse a seus filhos desejar ser sepultado no solo sagrado de Juazeiro e que nem a família do Ceará nem a de Pernambuco fossem busca-lo. Amâncio faleceu em 25 de outubro de 1949 e sua vontade foi respeitado, sendo sepultado em Juazeiro do Norte pelos familiares que lá residem.
O Governador Camilo Santana e o deputado estadual Moisés Braz (PT) inauguraram no dia 10 de agosto de 2017, às 16 horas, a Escola Estadual de Ensino Médio Ana de Siqueira Gonçalves, da Vila de Monte Sion, em Parambu. A unidade educacional recebeu a denominação por meio de projeto de iniciativa do deputado Moisés Braz (PT) aprovado na Assembleia e sancionado pelo Chefe do Executivo Estadual (Lei 16.114/16).
A Escola já se encontra em funcionamento, atendendo a alunos da região. Além do deputado e do governador, deverão estar presentes o Secretário de Educação Idilvan Alencar, diretores professores e alunos de outras escolas da região, demais integrantes do staff estadual e parlamentares da assembleia.
“Fizemos apenas uma pequena homenagem a uma pessoa importante para a comunidade de Monte Sion em Parambu. Dona Ana foi uma benfeitora de toda a comunidade nos mais diversos aspectos. Mais do que justo foi dar à escola o nome dela”, afirma o deputado Moisés Braz (PT)
A homenageada
ANA SIQUEIRA – “Dona Naninha” “Madinha Ana”
Fachada da Escola Ana de Siqueira Gonçalves |
Ana Siqueira Gonçalves, foi uma benfeitora do distrito de Monte Sion entre os anos 1940 e 1990. Natural de Afogados da Ingazeira-PE, filha de Amâncio de Siqueira Rosa e sua primeira esposa, nasceu em 04 de abril de 1917. Aos 19 mudou-se junto com seu pai e sua madrasta, para a Fazenda Riacho Fundo.
Em meados de 1946 casou-se com Manoel Pedro Neto (família Gonçalves), com quem teve oito filhos. Em 1949 com a morte de seu pai, ela recebe parte das terras da Fazenda Riacho Fundo e a partir daí inicia as doações. Doa terrenos para construção de casas de muitas famílias que chegavam a Monte Sion. Além disso, permitiu que fossem feitos os tijolos e telhas em sua propriedade, bem como a retirada de madeira para o telhado, janelas e portas.
Doou parte do patrimônio para a construção do Cemitério Público do Distrito. Depois, junto com o irmão Manoel Siqueira, o terreno para instalação da Torre de Televisão que retransmitia os canais de TV da época (Manchete, Globo, SBT, TVC e Bandeirantes).
Ainda apoiou o desporto local, ao permitir que em suas terras fosse construído o Campo de Futebol de Monte Sion, onde aconteciam campeonatos e “rachas” de fim de semana. Este fato influenciou a surgimento de time Riomon Futebol Clube (Riomon é mistura dos nomes Riacho Fundo e Monte Sion), em atividade desde a década de 1970.
Antes de haver quadras poliesportivas nas escolas, era nesse Campo que aconteciam as aulas de educação física do ensino fundamental, com corridas, jogos de vôlei, futebol de campo e gincanas, dentre outras atividades.
Junto com seu esposo, Ana Siqueira permitia às pessoas plantarem hortas em seu terreno, roças de milho, feijão, jerimum, melancia e outros, para a subsistência das famílias, sem a necessidade de lhe pagar renda. O povo de Monte Sion da época a chamava de “Madinha Ana” e, independente da idade, as pessoas pediam sua benção sempre que a encontravam. Foi uma figura muito respeitada e querida pela sua generosidade e afeto com todos independente da classe social, credo religioso ou cor.
Conta-se que era costume seu dividir sempre carne quando matavam algum boi e outros alimentos (arroz, milho, rapadura, farinha…) com as pessoas próximas a sua casa. Era de mesa farta e sentia-se profundamente grata a Deus por ajudar, dividindo o que tinha.
Possuía ainda grande amor pelos animais e não gostava de saber que nenhum era maltratado, indignava-se a partia em defesa destes, sempre com um discurso de muita ternura. Em sua simplicidade e grandeza de espírito, conquistou a muitos, e seu legado de bondade e ainda hoje é referencial de como um ser humano deve portar-se com os semelhantes, independente de seu status socioeconômico.
Após seu último parto em 1961, ela perdeu a visão, mas adquiriu uma aguçada percepção do sentimento humano. Gostava de aconselhar os familiares e amigos sempre os orientando para o bem. Mesmo cega, realizava as tarefas domésticas possíveis, como cozinhar e cuidar dos filhos e esposo. Encara o fato como permissão de Deus, e em sua fé profunda, citava o exemplo de Jó que nunca culpou a Deus por suas provações e ao final foi glorificado na casa do pai.
Nos seus últimos anos de vida, incapacitada pela falta da visão, Ana foi bastante auxiliada por Joaquina Maria da Conceição, irmã de criação desde os 7 anos, quando seu pai, Amâncio Siqueira, a acolheu após ela ter sido abandonada na Feira em Ouricuri (PE) por sua família de retirantes.
Ana de Siqueira Gonçalves faleceu no dia 5 de maio de 1991 em sua casa no Riacho Fundo – Monte Sion, de causas naturais. Deixou 7 filhos, 25 netos, até o momento 17 bisnetos, muitos sobrinhos e inúmeros afilhados. Seu legado e testemunho de vida é de acolhimento e amor ao próximo. Foi sepultada no Cemitério Público de Monte Sion e atraiu uma multidão de pessoas que vieram lhe prestar a última homenagem.
(Trecho da Monografia de Especialização em História do Prof. S. Alves)
Fonte: http://escolaamanciosiqueira.blogspot.com/p/historia_16.html
http://moisesbraz.com.br/escola-ana-goncalves-sera-inaugurada-nesta-quinta-em-parambu/
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