quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Jó Patriota, o Rei do Lirismo

fevereiro 09, 2023 Por Alexandre Morais Sem comentários


Jó Patriota

Por Marcos Passos

Job Patriota de Lima, Jó Patriota, filho de Geminiano Joaquim de Lima e Rita Neves da Silva, nasceu em 01 de janeiro de 1929, no sítio Cacimbas, localidade de Itapetim, que na época pertencia a São José do Egito. Viveu, durante a infância, na zona rural, com os seis irmãos. Sua primeira viola foi presente da irmã Maura, que o incentivava a desenvolver esse mérito artístico. Morou, desde a juventude, em São José do Egito.
Casou-se com a poetisa Das Neves Marinho (filha do poeta
Antônio Marinho), com quem teve dois filhos: Antônio de Marmo (Nõe) e Adriano Marques (Didi). A sua primeira viagem como cantador, muito jovem, foi com o repentista José Vicente da Paraíba, com a permissão de Geminiano, seu pai. Nunca foi mercenário e não cansava de dizer: “Se eu pudesse, pagava pra cantar”. Durante toda sua vida de cantador, enfrentou nomes famosos como o próprio Zé Vicente, Pinto do Monteiro, Lourival Batista, primo e concunhado, Manoel Xudu, Ivanildo Vila Nova e mais uma gama de valores poéticos de enorme poder de improviso.
O “Rei do lirismo” participou de vários Congressos e escreveu Na Senda do Lirismo, reeditado recentemente. Jó foi, inquestionavelmente, um dos nossos mais extraordinários poetas. Aparece em muitos livros no Nordeste brasileiro.
Irrequieto e com espírito de criança, ria e chorava concomitantemente. Quando cantava, se transportava a uma
dimensão onírica, pra trazer, do bojo de sua alma lírica, seus
versos, que nos deixava, a todos, embevecidos.
Da Senda do Lirismo, algumas preciosidades sertanejas
de Jó Patriota:

Nas águas do Pajeú,
Eu senti mais poesia,
Admirando o remanso,
Onde o vento rodopia,
Uma avalanche de espumas
Que a correnteza trazia.

Eu, às vezes, me admiro
Da abelha fazer o mel;
Um gavião espantar-se
Com papagaio de papel
E uma lagarta de fogo
Fazer medo à cascavel.

Pra falar de natureza,
Todo poeta se empenha.
Desde a paisagem bonita,
Até as queimadas da brenha,
Decifrando o monograma
Que o fumaceiro desenha.

Onde vê-se a alegria
Do passarinho saltitante,
Onde a música é mais brilhante
E é mais pura a poesia.
A matuta que assobia,
Numa apanha de algodão,
Tem mais valor que a canção
Dos boêmios de Paris...
Eu só me sinto feliz,
Porque nasci no sertão.

Glosando no mote do mestre Manoel Filó:

A paisagem no campo: que beleza,
Onde Deus escreveu o seu poema!
Cada árvore parece com um cinema,
Pelo filme da mão da natureza.
Pelo gado de toda redondeza,
O capim, pelo chão, fica pisado;
Como todo consolo, machucado,
Tem o cheiro do hálito da criança.
Toda sombra de pau, que um boi descansa,
Deixa um cheiro de pasto mastigado.

O boi manso na luta mais insana,
Quando pode livrar-se do carreiro,
Vai sentir o frescor do marmeleiro
E o perfume da flor de jitirana;
Num recanto, afastado da savana,
Ele vai ruminar mais sossegado,
Escutando um sussurro magoado,
Que escapa da voz da brisa mansa.
Toda sombra de pau, que um boi descansa,
Deixa um cheiro de pasto mastigado.

A estrofe seguinte foi retirada do livro Poetas Encantadores, de Zé de Cazuza, onde Job canta o mote que lhe foi dado:

Minha terra, família e camarada
Me fizeram chorar na despedida.
Recordamos aqui, dias inteiros,
As belezas que vemos no sertão:
Prado, jogo, novena, apartação,
Repentistas, poetas, sanfoneiros;
Vaquejadas, cavalos e vaqueiros,
A fazenda fantástica e distraída;
Balcão, copo, garrafa de bebida,
Futebol, cantoria, cavalhada,
Minha terra, família e camarada
Me fizeram chorar na despedida.

O poeta Pedro Américo enviou para a família do poeta uma flâmula com a bela estrofe de Jó, de quem era grande amigo e admirador:

Eu, na derradeira ânsia,
Guardarei, no coração,
As paisagens do sertão
Que contemplei na infância.
Dos ventos, a ressonância;
Das águas, a sinfonia;
As cores do fim do dia
E o rosto da lua nova.
Morrendo, eu levo, pra cova,
Os sinais da poesia.

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