João Gomes dos Reis em Carnahyba
Por Alexsandro Acioly
(Historiador e Pesquisador)
Correção: Larissa Acioly
Relendo o livro “Carnaíba: A Pérola do Pajeú”, de Pe. Frederico Bezerra Maciel e reeditado pela CEPE, estou fazendo mais uma vez uma viagem no tempo, pois já havia lido a primeira edição desta pérola. A primeira edição me foi presenteada pelo amigo carnaibano, Frank Reis. Já esta segunda edição, recebi das mãos do também carnaibano Willian Malaquias, ambos amigos queridos e de famílias tradicionais da cidade.
Ler “A Pérola do Pajeú” é fazer uma regressão e passeio pelas terras da antiga Fazenda Carnahyba, prosear com cada um dos seus fundadores, avistar escravos nos pátios das fazendas e acompanhar de pertinho toda a evolução da querida Carnaíba. É conhecer a sua cultura, religião e política. É mergulhar em cada letra das composições do grande Zé Dantas, como se estivesse dentro de uma sala de reboco e de chão batido. Enfim, revisitar esta obra é caminhar de mãos dadas com o sertão, com o Pajeú e com um povo repleto de histórias e tradições.
Quero abrir um parêntese, ou quem sabe uma interrogação, na questão da chegada do fundador da cidade de Carnaíba, João Gomes dos Reis.
O Pe. Frederico Bezerra Maciel é firme e categórico quando diz que a fundação se dá no ano de 1850. Como não tenho documentos que comprovem esta data, deduzo e posso comprovar que a chegada da família “Gomes dos Reis” se dá bem antes do ano de 1850. Através de documentos, creio que antes do anos de 1830 esta família já se encontrava na região. Vale reforçar que estou falando da chegada, e não da fundação da villa.
Sei que a partir de agora vários questionamentos me serão feitos, do gênero: Como você pode dizer isso? Em que você se baseia para fazer tal afirmação? Você tem provas? Esta última já respondo de imediato: Não, eu não tenho provas, mas tenho documentos da época que podem ajudar a decifrar este mistério da chegada de João Gomes dos Reis à região de Carnaíba. É a famosa e eterna briga entre a oralidade e o documental. Briga esta que não faço parte, pois ambas caminham lado a lado, uma auxilia a outra.
O Pe. Frederico cita dois irmãos e moradores locais que se casaram com as netas de João Gomes, são eles: João Leandro e Manuel Leandro, o segundo considerado por todos como o maior conhecedor da história de carnaíba.
No livro “Carnaíba: A Pérola do Pajeú”, em parte do texto está escrito:
... Além dessas provas por traição oral, o argumento por dedução:
- Se o fundador, nascido em 1820, chegara aos 30 anos de idade a carnaíba, conclui-se, lógica e facilmente, que a data de 1850 está absolutamente certa! (P.27)
Vale a pena observar que o autor frisa bem a as palavras, “oralidade” e “dedução”, mas não cita algo documental. Posteriormente são citados os 10 filhos: João (Alferes); Simplício do Capim grosso; Antônio do barreiro; Manuel da Barroca: Luizinho do Poço do Pau; Isabel do Jatobá; Ana; Severina; Raquel e Vilante.
Dois destes filhos, “João e Vilante”, serão de grande importância na informação de que a família Gomes dos Reis já se encontrava em Carnaíba bem antes de 1850.
Os documentos a seguir comprovam a presença da família já na década de 1830 e 1840 por estas paragens. Serão citados os dois irmãos em tais documentos, como também a pessoa de João Gomes dos Reis.
Anexo 01:
Figura 1- O documento trata do batizado de Rita, preta e filha de Theresa (escrava de João Gomes dos Reis) - o batizado acontece no oratório particular da "Fazenda Carnahyba", freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Flores do Pajeú em 15 de abril de 1838.
Anexo 02:
Figura 2- O documento tara do batizado de Clara, branca e filha de Joaquim Mendes da Silva e Maria Clara da Conceição, ocorrido na Capella dos Afogados em 03 de maio de 1841. Padrinhos: João Gomes dos Reis Júnior de Violante Maria da Conceição.
Nas imagens anteriores, dos dois batizados, pode-se observar que um deles, no caso da filha da escrava, é realizado justamente no cartório particular da “Fazenda Carnahyba”, enquanto o outro acontece na Capella dos Afogados, atual Afogados da Ingazeira, filial da Matriz de São José de Ingazeira.
Como falei anteriormente, João Gomes dos |Reis e dois dos seus filhos estão citados nestes documentos, que antecedem o ano de 1850. Vale salientar que também já existia a Fazenda Carnahyba nesta época.
A imagem de número 03 trata-se de uma publicação do periódico, Diário Novo (PE), da cidade do Recife, onde na lista dos eleitores da Paróquia de Flores consta o nome do Alfares João Gomes dos Reis Júnior. A publicação do periódico é datada de 12 de outubro de 1844. O Pe. Frederico é categórico quando cita os nomes dos filhos de João Gomes e é justamente a partir da oralidade dos carnaibanos citados e das deduções do escritor que tomei por base esta simples pesquisa e pude encontrar estes documentos que, de uma forma ou de outra, junto aos escritos do Pe. Frederico Bezerra Maciel são de importante valor para a história não só de Carnaíba, mas de toda a região. As dúvidas em relação ao povoamento de algumas regiões terão sempre suas discussões, o que é de bastante validade, desde que, ocorram com diálogos baseados e fundamentados. Este texto foi feito puramente para que haja estes diálogos e também para provar que oralidade e documentos podem sim seguir juntos na descoberta da nossa história, em especial a local.
Anexo 03: