Arte: Edgley Brito |
"Hoje é Treze de Dezembro e a Treze de Dezembro nasceu nosso rei..." já disse e cantou, assim como foi, Gilberto Gil.
Luiz Gonzaga do Nascimento, o Luiz Gonzaga, o Lua, O Rei de Baião, nasceu em 13 de dezembro de 1912. Estamos então na data de 112 anos de nascimento do Pernambucano do Século e do maior cantador do Nordeste. Um dos maiores do Brasil em todos os tempos, sem bairrismo nenhum.
Não por acaso hoje também é o Dia Nacional do Forró. Foi Luiz quem deu identidade e abriu caminhos para o ritmo que é um dos símbolos nacionais.
Ficam aqui um clássico para assistir e um cordel para ler. Viva, Gonzaga!!!
Luiz Gonzaga: O poeta da sanfona
Autor: Alexandre Morais
Bragi, deus da poesia
Dai-me a tua proteção
E junto a todos os deuses
Derramai inspiração
Pra que eu fale em cordel
De Luiz, Rei do Baião
Também peço atenção
A você que agora lê
Um presente a seu estudo
Com esta leitura dê
Porque estes versos simples
Eu fiz pensando em você
Fiz estes versos porque
É preciso vir à tona
Para as novas gerações
O que a ciência não clona
O talento de Gonzaga
O poeta da sanfona
Ter a fé como patrona
Se tornou seu grande feito
Se fez rei, ganhou o mundo
Com a sanfona no peito
Provando que todos podem
Sendo simples, ter respeito
Pois vamos com calma e jeito
Conhecer a sua história
Vamos recorrer aos livros
Aos discos e à memória
Pra sabermos de Luiz
Toda a sua trajetória
O seu nome rende glória
E honra à Santa Luzia
De Luzia vem Luiz
Pra ter a fé como guia
Nasceu no dia da santa
Mês dezembro, treze o dia
Ainda teve na pia
Batismal o complemento
Gonzaga foi sugestão
Do padre do sacramento
E por ser mês de Jesus
Terminou com Nascimento
Surgiu assim o rebento
Que o mundo reconheceu
Mil novecentos e doze
Foi o ano que nasceu
A cidade foi Exu
Pernambuco o Estado seu
Foi num sítio que se deu
Seu nascimento e infância
Januário foi seu pai
Homem simples, sem ganância
E sua mãe foi Santana
A santa da tolerância
Ali só via à distância
Conforto, luxo e poder
Junto aos pais e oito irmãos
Dizia não entender
Por que todos não podiam
Do mesmo modo viver
Via sem compreender
Por que existir pobreza
Para tantos se pra poucos
Se destinava a riqueza
E quem foi que fez o homem
Se apossar da natureza
Por esta sua esperteza
Buscou sempre o que queria
Na vida como na arte
Acreditou que podia
Por a mesa e ser servido
Do pão da cidadania
Junto a Januário ia
Para os forrós do lugar
O seu pai sabia fole
De oito baixos bem tocar
E tinha por profissão
Esses foles consertar
Luiz de tanto escutar
O pai nesta atividade
Começou mexer nos foles
Só por curiosidade
Mas descobriu que com música
Tinha muita afinidade
Com oito anos de idade
Tocou pela vez primeira
Foi tocar algumas músicas
Quase como brincadeira
Mas a pedido do povo
Tocou pela noite inteira
E não fez por brincadeira
Esta noitada de dança
A partir daquela hora
Adquiriu confiança
E os trocados que ganhava
Guardava como poupança
Assim, ainda criança
Apenas com doze anos
Comprou seu primeiro fole
Concretizando os seus planos
De fazer os próprios shows
Como via os veteranos
Apesar dos desenganos
No primeiro passo dado
Nunca baixou a cabeça
Foi sempre determinado
Até porque desde cedo
Foi bastante elogiado
Viu-se então apaixonado
Por uma linda morena
Menina moça singela
Chamada de Nazarena
Que comparou à sanfona
Por ser tão bela e serena
Mas felicidade plena
É difícil em um namoro
Quando o pai da moça é rico
E ver como um desaforo
Ela namorar um pobre
Isso é quebra de decoro
Luiz foi do riso ao choro
Pela discriminação
Por ser pobre, por ser negro
E por não ter formação
E foi junto ao pai da moça
Tomar-lhe satisfação
Coronel na região
O homem viu-se afrontado
Queixou-se junto a Santana
Do ato desaforado
E Luiz foi pela mãe
Duramente castigado
Triste e envergonhado
Achando aquilo um distrato
Procurou uma saída
Para se esquecer do fato
Fugiu para o Ceará
Para a cidade do Crato
Encontrou lá um retrato
De maior dificuldade
Sem família, sem trabalho
Em uma maior cidade
E novamente a astúcia
Foi sua felicidade
Como tinha pouca idade
A idade ele aumentou
Se apresentou num quartel
No Exército se alistou
De soldado Nascimento
Um novo nome ganhou
No Exército viajou
E depois de um ano inteiro
Em vez de sair, ficou
E no Estado mineiro
Assumiu logo a função
De soldado corneteiro
Mas seu desejo primeiro
De pela música trilhar
Sempre lhe acompanhou
Não lhe deixou descansar
Assim ele conseguiu
Uma sanfona comprar
Toda folga ia tocar
Em festas, sambas e bares
Recebeu aprovação
Dos amigos militares
E logo tinha convites
Para diversos lugares
Com o riso pelos ares
E um querer indescritível
Pediu baixa do Exército
Pois se viu em outro nível
Se ser músico era seu sonho
Viu que nada era impossível
Como o sonho faz possível
Tudo que a gente acredita
Gonzaga qual sonhador
Que com nada se limita
Foi pro Rio de Janeiro
C’uma esperança infinita
Lá, igual a quem imita
O que era moda tocou
Blues, tango, mazurca e valsa
Muitos bailes animou
Mas só quando foi autêntico
Foi que tudo melhorou
Quando o seu fole puxou
Pra tocar a sua terra
Foi que se fez verdadeiro
Com seu forró pé-de-serra
Comprovou que quem assume
A sua origem não erra
O trabalho, enfim, descerra
O sucesso esperado
Foi às rádios, gravou discos
Foi pelo povo abraçado
Eternizou o baião
E se fez eternizado
Foi sempre identificado
Por seu jeito verdadeiro
Por sua sanfona branca
Seu chapéu de cangaceiro
Seu sorriso sempre largo
E uma roupa de vaqueiro
Achou em cada parceiro
Um presente do destino
Teve em Humberto Teixeira
Zé Dantas, Zé Marcolino
Um trio dos mais presentes
Todos do chão nordestino
O que viu quando menino
Costumes e tradições
O que viu pelo Brasil
Glórias e decepções
Tudo transformou-se em
Tema pra suas canções
São suas composições
Na carreira reunidas
Seiscentas e vinte e cinco
Pelo público aplaudidas
Em duzentos e sessenta
E seis discos divididas
Umas de tão repetidas
Ficaram eternizadas
Asa Branca, por exemplo
Está entre as mais cantadas
E Baião e Vem Morena
Estão entre as mais gravadas
Muitas foram regravadas
Por artistas regionais
Algumas ganharam vozes
De ídolos nacionais
Outras ganharam versões
Até internacionais
Assim entre os principais
Personagens brasileiros
Luiz Gonzaga merece
Figurar entre os primeiros
Pela vida e pela história
Por seus gestos pioneiros
Seus caminhos, seus roteiros
Aos jovens indicam pistas
De como vencer na vida
Quer sejam ou não artistas
Pois prova que a persistência
É a base das conquistas
Exemplo pros pessimistas
Que tem medo de lutar
Exemplo pros otimistas
Que apostam no sonhar
Luiz foi e ainda é
Uma vida a se exaltar
Mas vida tem que findar
Que a morte ninguém comove
Mesmo quem na terra é grande
Para o céu se locomove
E Luiz partiu em dois
De agosto de oitenta e nove
Lua, o Luiz Gonzaga
Um caboclo do sertão
Imortalizou a saga
Zabumbada do baião
Gente que não conhecia
O que fez, quem foi Luiz
Neste cordel aprendeu
Zen, tranquilo, agora diz
A vida de Gonzagão
Ganhou em cada canção
A sua força motriz
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