sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Luiz Gonzaga - 112 anos, uma música e um cordel

dezembro 13, 2024 Por Alexandre Morais Sem comentários

Arte: Edgley Brito

   "Hoje é Treze de Dezembro e a Treze de Dezembro nasceu nosso rei..." já disse e cantou, assim como foi, Gilberto Gil.

   Luiz Gonzaga do Nascimento, o Luiz Gonzaga, o Lua, O Rei de Baião, nasceu em 13 de dezembro de 1912. Estamos então na data de 112 anos de nascimento do Pernambucano do Século e do maior cantador do Nordeste. Um dos maiores do Brasil em todos os tempos, sem bairrismo nenhum.

  Não por acaso hoje também é o Dia Nacional do Forró. Foi Luiz quem deu identidade e abriu caminhos para o ritmo que é um dos símbolos nacionais.

  Ficam aqui um clássico para assistir e um cordel para ler. Viva, Gonzaga!!!



Luiz Gonzaga: O poeta da sanfona

Autor: Alexandre Morais

 

Bragi, deus da poesia

Dai-me a tua proteção

E junto a todos os deuses

Derramai inspiração

Pra que eu fale em cordel

De Luiz, Rei do Baião

 

Também peço atenção

A você que agora lê

Um presente a seu estudo

Com esta leitura dê

Porque estes versos simples

Eu fiz pensando em você

 

Fiz estes versos porque

É preciso vir à tona

Para as novas gerações

O que a ciência não clona

O talento de Gonzaga

O poeta da sanfona

 

Ter a fé como patrona

Se tornou seu grande feito

Se fez rei, ganhou o mundo

Com a sanfona no peito

Provando que todos podem

Sendo simples, ter respeito

 

Pois vamos com calma e jeito

Conhecer a sua história

Vamos recorrer aos livros

Aos discos e à memória

Pra sabermos de Luiz

Toda a sua trajetória

 

O seu nome rende glória

E honra à Santa Luzia

De Luzia vem Luiz

Pra ter a fé como guia

Nasceu no dia da santa

Mês dezembro, treze o dia

  

Ainda teve na pia

Batismal o complemento

Gonzaga foi sugestão

Do padre do sacramento

E por ser mês de Jesus

Terminou com Nascimento

 

Surgiu assim o rebento

Que o mundo reconheceu

Mil novecentos e doze

Foi o ano que nasceu

A cidade foi Exu

Pernambuco o Estado seu

 

Foi num sítio que se deu

Seu nascimento e infância

Januário foi seu pai

Homem simples, sem ganância

E sua mãe foi Santana

A santa da tolerância

 

Ali só via à distância

Conforto, luxo e poder

Junto aos pais e oito irmãos

Dizia não entender

Por que todos não podiam

Do mesmo modo viver

 

Via sem compreender

Por que existir pobreza

Para tantos se pra poucos

Se destinava a riqueza

E quem foi que fez o homem

Se apossar da natureza

 

Por esta sua esperteza

Buscou sempre o que queria

Na vida como na arte

Acreditou que podia

Por a mesa e ser servido

Do pão da cidadania

 

Junto a Januário ia

Para os forrós do lugar

O seu pai sabia fole

De oito baixos bem tocar

E tinha por profissão

Esses foles consertar

 

Luiz de tanto escutar

O pai nesta atividade

Começou mexer nos foles

Só por curiosidade

Mas descobriu que com música

Tinha muita afinidade

 

Com oito anos de idade

Tocou pela vez primeira

Foi tocar algumas músicas

Quase como brincadeira

Mas a pedido do povo

Tocou pela noite inteira

 

E não fez por brincadeira

Esta noitada de dança

A partir daquela hora

Adquiriu confiança

E os trocados que ganhava

Guardava como poupança

 

Assim, ainda criança

Apenas com doze anos

Comprou seu primeiro fole

Concretizando os seus planos

De fazer os próprios shows

Como via os veteranos

 

Apesar dos desenganos

No primeiro passo dado

Nunca baixou a cabeça

Foi sempre determinado

Até porque desde cedo

Foi bastante elogiado

  

Viu-se então apaixonado

Por uma linda morena

Menina moça singela

Chamada de Nazarena

Que comparou à sanfona

Por ser tão bela e serena

 

Mas felicidade plena

É difícil em um namoro

Quando o pai da moça é rico

E ver como um desaforo

Ela namorar um pobre

Isso é quebra de decoro

 

Luiz foi do riso ao choro

Pela discriminação

Por ser pobre, por ser negro

E por não ter formação

E foi junto ao pai da moça

Tomar-lhe satisfação

 

Coronel na região

O homem viu-se afrontado

Queixou-se junto a Santana

Do ato desaforado

E Luiz foi pela mãe

Duramente castigado

 

Triste e envergonhado

Achando aquilo um distrato

Procurou uma saída

Para se esquecer do fato

Fugiu para o Ceará

Para a cidade do Crato

 

Encontrou lá um retrato

De maior dificuldade

Sem família, sem trabalho

Em uma maior cidade

E novamente a astúcia

Foi sua felicidade

 

Como tinha pouca idade

A idade ele aumentou

Se apresentou num quartel

No Exército se alistou

De soldado Nascimento

Um novo nome ganhou

 

No Exército viajou

E depois de um ano inteiro

Em vez de sair, ficou

E no Estado mineiro

Assumiu logo a função

De soldado corneteiro

 

Mas seu desejo primeiro

De pela música trilhar

Sempre lhe acompanhou

Não lhe deixou descansar

Assim ele conseguiu

Uma sanfona comprar

 

Toda folga ia tocar

Em festas, sambas e bares

Recebeu aprovação

Dos amigos militares

E logo tinha convites

Para diversos lugares

 

Com o riso pelos ares

E um querer indescritível

Pediu baixa do Exército

Pois se viu em outro nível

Se ser músico era seu sonho

Viu que nada era impossível

 

Como o sonho faz possível

Tudo que a gente acredita

Gonzaga qual sonhador

Que com nada se limita

Foi pro Rio de Janeiro

C’uma esperança infinita

 

Lá, igual a quem imita

O que era moda tocou

Blues, tango, mazurca e valsa

Muitos bailes animou

Mas só quando foi autêntico

Foi que tudo melhorou

 

Quando o seu fole puxou

Pra tocar a sua terra

Foi que se fez verdadeiro

Com seu forró pé-de-serra

Comprovou que quem assume

A sua origem não erra

 

O trabalho, enfim, descerra

O sucesso esperado

Foi às rádios, gravou discos

Foi pelo povo abraçado

Eternizou o baião

E se fez eternizado

 

Foi sempre identificado

Por seu jeito verdadeiro

Por sua sanfona branca

Seu chapéu de cangaceiro

Seu sorriso sempre largo

E uma roupa de vaqueiro

 

Achou em cada parceiro

Um presente do destino

Teve em Humberto Teixeira

Zé Dantas, Zé Marcolino

Um trio dos mais presentes

Todos do chão nordestino

 

O que viu quando menino

Costumes e tradições

O que viu pelo Brasil

Glórias e decepções

Tudo transformou-se em

Tema pra suas canções

 

São suas composições

Na carreira reunidas

Seiscentas e vinte e cinco

Pelo público aplaudidas

Em duzentos e sessenta

E seis discos divididas

 

Umas de tão repetidas

Ficaram eternizadas

Asa Branca, por exemplo

Está entre as mais cantadas

E Baião e Vem Morena

Estão entre as mais gravadas

 

Muitas foram regravadas

Por artistas regionais

Algumas ganharam vozes

De ídolos nacionais

Outras ganharam versões

Até internacionais

 

Assim entre os principais

Personagens brasileiros

Luiz Gonzaga merece

Figurar entre os primeiros

Pela vida e pela história

Por seus gestos pioneiros

 

Seus caminhos, seus roteiros

Aos jovens indicam pistas

De como vencer na vida

Quer sejam ou não artistas

Pois prova que a persistência

É a base das conquistas

 

Exemplo pros pessimistas

Que tem medo de lutar

Exemplo pros otimistas

Que apostam no sonhar

Luiz foi e ainda é

Uma vida a se exaltar

 

Mas vida tem que findar

Que a morte ninguém comove

Mesmo quem na terra é grande

Para o céu se locomove

E Luiz partiu em dois

De agosto de oitenta e nove

 

Lua, o Luiz Gonzaga

Um caboclo do sertão

Imortalizou a saga

Zabumbada do baião

 

Gente que não conhecia

O que fez, quem foi Luiz

Neste cordel aprendeu

Zen, tranquilo, agora diz

A vida de Gonzagão

Ganhou em cada canção

A sua força motriz

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