segunda-feira, 28 de março de 2022

Viva Zélia Barbosa

março 28, 2022 Por Alexsandro Acioly Sem comentários

 Zélia Barbosa 90 Anos

Por Pedro de Souza 

(Produtor Musical e Cultural)


Zélia Barbosa (In Memorian)


 ZÉLIA BARBOSA atuou no mundo artístico do Recife e do mundo; foi atriz, cantou e encantou.
    No teatro, Zélia integrou no final da década de 50 e início dos anos 60, o elenco do TUCAP – Teatro da Universidade Católica de Pernambuco, onde se apresentou em vários espetáculos dirigidos por Clênio Wanderley, a exemplo de “A Farsa do Advogado Pathelin”, de Antoine de la Sale, além do elenco do TAP – Teatro de Amadores de Pernambuco, tendo participado do espetáculo “Bodas de Sangue”, de Federico García Lorca, dirigido por Bibi Ferreira.
    Como cantora, iniciou sua carreira no Coral Bach do Recife, então regido pelo maestro Geraldo Menucci, com o qual se apresentou em festivais mundo afora; Zélia destacava o “VII Festival Internacional da Juventude”, em Moscou, no ano de 1957 e o acompanhamento dos espetáculos da Paixão de Cristo, ainda na Vila de Fazenda Nova, por trás dos cenários, também em 1957.
    Já como profissional, participou de Festivais de Música Brasileira, de Shows e de Espetáculos Musicais, a exemplo do “Cantochão”, dirigido por Benjamim Santos, onde cantou ao lado de Teca Calazans, acompanhados por Marcelo Melo, Paulo Guimarães, José Fernandes e Naná Vasconcelos; “O Samba, a Prontidão e Outras Bossas”, show em que Zélia apresentou ao Recife o ainda desconhecido sambista carioca Paulinho da Viola, acompanhados por Naná Vasconcelos e Paulo Guimarães; “Paroli Paroliado”, espetáculo escrito e dirigido por Benjamim Santos, especialmente para Zélia e Carlos Reis, quando foram acompanhados pelo violão de Geraldo Azevedo – recém chegado de Petrolina e que nesse espetáculo assinou, também, a Direção Musical -, pela Flauta de Generino Luna e pela bateria e percussão de Luciano Pimentel, e, finalmente, o “Recital Zélia Barbosa”, que estreou no Teatro Popular do Nordeste – TPN, em 04 de dezembro de 1968, espetáculo solo dirigido por Benjamin Santos, em que foi acompanhada por Sérgio Kyrillos, Marcelo Melo, Toinho Alves e Luciano Pimentel – estes três últimos que, em 1971, fizeram, juntamente com Fernando Filizola e Sando, a primeira formação do “fenômeno” Quinteto Violado.

Zélia Barbosa e Toinho Alves (In Memorian)
    Isso entre os anos 65 e 70, época efervescente, de grande riqueza musical – quando se atravessou a ditadura, a Bossa Nova e o Tropicalismo (este último, movimento ao qual Zélia não aderiu, pois não combinava com seu estilo); participou, ainda, dos Grupos de Música de Protesto – mas, apesar das circunstâncias da época, eram todos muito românticos.
    “A música naquele momento não era só música. Era um movimento, era uma maneira de se fazer política, era protestadora, levantava a multidão e mexia com a Censura. Era a verdadeira Música Popular Brasileira”, comentou Zélia, empolgada ao lembrar daquele período, em uma das suas entrevistas.
    Em 2008, durante as comemorações dos 50 anos da Bossa Nova, Naná Vasconcelos, ele que é internacionalmente conhecido e o mais respeitado percussionista do mundo, em entrevista ao Jornalista e Pesquisador José Teles, do Jornal do Commercio, disparou : “participei do Bossanorte, com Toinho Alves e Marcelo Melo. Fiz, também, vários shows com Teca Calazans e Zélia Barbosa, que era a nossa Elis Regina”.
Nesse mesmo período, Zélia participou de programas locais de Televisão, a exemplo de “Hora do Coquetel”, apresentado por Alex; “Convocação Geral”, de José Pimentel e “Recife, Modéstia à Parte”, apresentado por Zezito Neves e pela atriz Heloísa Helena – isto sem contar com os inúmeros convites para participações em programas a nível nacional, como os de Hebe Camargo, que Zélia teve de recusar, “porque cantar não era a minha profissão – à época eu era funcionária da então Companhia de Eletricidade de Pernambuco – CELPE e nem sempre podia me afastar”, acrescentava Zélia.

Zélia Barbosa (In Memorian)

    Em março de 1966, seguiu para a França, onde permaneceu até outubro de 1967, quando cumpriu uma bolsa de estudo em Paris na área de canto, concedida pelo Comitê Católico Contra a Fome, coordenado por Jacqueline Fabre. A Bolsa foi resultado de seu trabalho com Dom Helder Câmara, no MEB – Movimento de Educação de Base, época em que Zélia estava à disposição da Arquidiocese de Olinda e Recife; como consequência dessa Bolsa, gravou o compacto “Borandá”, editado pela UNIDISC, com músicas de Chico Buarque, Edu Lobo, Tuca Nascimento e Zé Kétti, todas traduzidas para o francês, quando foi acompanhada pelo violão de Raquel Chaves (falecida em 1996). Devido ao sucesso desse compacto, foi convidada pela gravadora ‘Le Chant du Monde’, para abrir a Coleção ‘La Chanson Rebelde’, com a gravação do LP “Brèsil – Sertão & Favelas”, dirigido por Turíbio Santos, editado na França, Espanha, Portugal, Alemanha, México, Estados Unidos (lá, tem o título de Songs of Protest), Japão, Itália e Argentina, recebendo, na França, o Selo Charles Cros, e que foi reeditado em CD, pela mesma ‘Le Chant du Monde’, no ano de 1995, 28 anos depois de gravado – tendo seu livreto para o CD, traduzido para o francês, inglês e português.
    Em 1967, já de volta ao Brasil, vence, como Melhor Intérprete e Melhor Música, a I Feira de Música do Nordeste, defendendo “Chegança de Fim de Tarde”, de Marcus Vinícius, com Geraldo Azevedo ao violão.
    Em 1972, participou, a convite de Marcus Pereira, da coleção “Música Popular do Nordeste”, série histórica de 4 LP’s, resultado de grande pesquisa do Escritor e Teatrólogo Hermilo Borba Filho sobre os ritmos nordestinos – o frevo, o coco, o samba de roda, o caboclinho, os pífanos, a ciranda – e que recebeu o Prêmio MIS – Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro; Zélia foi acompanhada pelo Quinteto Violado, ficando responsável pela voz nos frevos, tendo interpretado Capiba, Luiz Bandeira, João Santiago e Nélson Ferreira – este último, com quem já havia trabalhado no Serviço Radiofônico de Educação, juntamente com a atriz e grande amiga Lêda Alves, e os radialistas Jorge José e Nilson Lins, como rádio-apresentadores dos Programas Educativos do MEC – Ministério da Educação e Cultura. A Coleção “Música Popular do Nordeste”, também foi reeditada em CD, em 1995, pela Eldorado. Zélia foi a primeira Artista a gravar o “Hino dos Batutas de São José”, sendo, também, a primeira mulher a gravar frevo de bloco.
    Em 1973, participou, no Teatro TUCA, em São Paulo, do show de lançamento da Coleção Música Popular do Nordeste.
Em 1974, participou, no Teatro de Santa Isabel, da gravação do LP “Frevo ao Vivo”, também produzido por Marcus Pereira e pelo Quinteto Violado, onde interpretou “Pinga Fogo”, de autoria de Fernando Filizola, acompanhada pela Orquestra de Frevos do Recife, regida pelo Maestro José Menezes.
Em 1983, especialmente convidada por Geninha da Rosa Borges – então Diretora do Teatro de Santa Isabel -, retornou aos palcos e abriu a temporada de Saraus, no Salão Nobre daquele Teatro, acompanhada pelo violonista Henrique Ánnes – uma noite onde Zélia reencontrou os amigos que acompanharam sua carreira.
    Na noite de 02 de outubro de 1984, participou, ao lado de Carlos Reis, Claudionor Germano e Expedito Baracho, conduzidos pelo Maestro Guedes Peixoto e sua Orquestra de Câmara da UFPE, de um grande Espetáculo com 2 atos, intitulado “Capiba, Seus Poemas e Seus Poetas”, dentro das comemorações dos 80 anos de Lourenço da Fonseca Barbosa – Capiba, também no Teatro de Santa Isabel, produzido pela Fundarpe e GrupoNove; do show, resultou a gravação de um LP, patrocinado pelo Bandepe e Governo de Pernambuco, e que foi oferecido como brinde de fim de ano aos clientes e funcionários daquele Banco, sendo lançado em 15 de dezembro de 1984, numa grande tarde/noite de autógrafos do mestre Capiba.
    Após 18 anos sem cantar e gravar profissionalmente, e dentro das comemorações dos 35 anos de lançamento de seu primeiro LP, seu filho, Pedro Francisco de Souza - atual Produtor do Quinteto Violado e da Banda Infantil ImaginaSom, produziu em parceria com a Celpe – patrocinadora exclusiva através do Sistema de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco, na gestão do governador Jarbas Vasconcelos, o CD “Pra Se Viver Um Amor Maior”, onde Zélia regravou clássicos que marcaram sua carreira; ela contou com as participações especiais e amigas de Carlos Reis (falecido em junho de 2021), Claudionor Germano, Cussy de Almeida (falecido em 2010), Quinteto Violado, Fernando Rocha e Geraldo Azevedo – que fez questão de gravar a música que haviam defendido na final da I Feira de Música do Nordeste.
    Em 2009, em uma visita ao Brasil, o Crítico, DJ e Produtor Francês Rémy Kolpa Kopoul, em entrevista ao Jornal do Commercio, disse : “Entre momentos marcantes de minha primeira vinda ao Brasil, guardei encontros com a cantora Zélia Barbosa e Dom Helder Câmara e , de uma outra vinda, lembro-me de uma visita ao ex-presídio do Recife (atual Casa da Cultura), onde encontrei e conhecí o seu Diretor, Pedro de Souza, que me convidou à sua casa e eis que me encontro com sua mulher, falando francês, e que para minha surpresa era Zélia Barbosa – que a esta altura já havia estudado na França e gravado um compacto e um LP de músicas de sertão e de protesto que se tornou um grande sucesso internacional”.
    Zélia aposentou-se da Celpe em 1992, quando passou a realizar trabalhos voluntários com a Federação de Bandeirantes do Brasil – FBB; o Instituto Dom Helder Câmara - IDHEC e as entidades francesas Edelweiss Accueill e Médecins du Monde. Formou família ao lado do seu marido – o executivo, produtor, cerimonialista e ator, Pedro de Souza, com quem casou em 1970; era mãe de Pedro Francisco e Catarina, e avó de Pedro Victor, Pedro Arthur, Maria Júlia e Pedro Henrique.


quarta-feira, 23 de março de 2022

Alexandre Pé de Serra - Pronto pra forrozar

março 23, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

 

  O Compositor, Poeta e Enfermeiro Alexandre Pé de Serra (foto) nasceu na capital João Pessoa - PB, mas tem raízes em Serraria, no brejo paraibano. Traz no seu cantar o Nordeste traduzido em forró, xote, xaxado, arrasta-pé, baião e outros gêneros.

   Enveredando  pelas estradas da vida musical com um estilo único no seu cantar, no declamar e alegrando por onde passa com sua música e o seu show. 

   Tem 22 anos de carreira musical e forrozeira  dedicados ao legítimo forró. Já junta no seu matulão discográfico dez CDs e 02 DVDs, sendo o primeiro nos seus 15 anos de carreira gravado em João Pessoa e o outro um documentário gravado em Monteiro - PB, dentro das festividades do Festival Zabé da Loca.

 Como compositor, dezenas de artistas já gravaram suas músicas. 

  Participou de alguns festivais por seu  estado, a Paraíba,  como também em outros por esse nordeste. Sempre enaltecendo o forró e a cultura popular nordestina. 

   Alexandre Pé de Serra se solidifica como um legítimo seguidor dos mestres Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, dentre outros. Com um jeito simples e singular de interpretar e compor, ele vem com um show alegre, cultural e fiel às origens forrozeiras.

   Como ele sempre diz: "Um Abraço Forrozado".

Pra ver como presta, clica aqui assiste tudo e se inscreve no canal do Alexandre Pé de Serra.

Contatos para shows:

83-998327548 / 83-988198032

E-mail  alexandre.pedeserra@hotmail.com

Afogadenses homenageados com nome de escolas no interior do Ceará

março 23, 2022 Por Alexsandro Acioly Sem comentários

Amâncio de Siqueira Rosa e Ana de Siqueira Gonçalves

 

Alexsandro Acioly

(Pesquisador e Historiador - CPDOC/PAJEÚ)


    Afogados da Ingazeira é conhecida no Pajeú por ter alguns filhos ilustres reconhecidos nacionalmente na arte das letras como é o caso do Monsenhor Arruda Câmara, Oscar de Campos Góes, Manoel Arão, Padre Luiz de Góes, e tantos outros que engrandecem o nome da cidade e consequentemente da região.

    Mas uma descoberta que me deixou muito feliz aconteceu semana passada. Pesquisando alguns materiais para estudo me deparei com o nome de duas figuras ilustres, pai e filha, sendo homenageados na cidade de Parambu localizada na microrregião dos Inhamuns no interior do Ceará e a uma distância de 406 km da capital Fortaleza.

    Estou falando das pessoas de Amâncio Siqueira Rosa e sua filha, Ana de Siqueira Goçalves que sairam de afogados da Ingazeira em meados da década de 1930 para fazer história nesta pequena vila que  foi criada pela lei Nº 3338 de 15 de setembro de 1956 e instalado simbolicamente em 22 de outubro de 1956 e só em 1957 foi o município instalado oficialmente e realizadas as primeiras eleições municipais, precisamente a 04 de Agosto.

Segue abaixo textos transcritos:

 

Amâncio Siqueira Rosa

Amâncio Siqueira Rosa (Foto: Paulo Siqueira)

 

Escola Amâncio Siqueira Rosa - Imagem/Internet
 

    A Escola é uma homenagem a um dos homens que construiu as bases para a fundação de Monte Sion, o senhor Amâcio Siqueira Rosa. Amâncio foi patriarca dos Siqueiras de Monte Sion, pai de Manoel Siqueira Rosa, Ana Siqueira Gonçalves e Isabel Siqueira Sousa. Nascido em 1876, no Pajeú - Pernambuco, casou-se duas vezes e teve ao todo 18 filhos, primeira família em Pernambuco e a segunda família no Ceará. Veio ao Ceará em 1936, comprou terras na localidade de Cipó-Tauá (Parambu ainda era uma vila de Tauá) e construiu a Fazenda Riacho Fundo. Vendeu parte das terras a Idelfondo Pedro de Sousa e o restante seus filhos herdaram, mas apenas Manoel, Ana, Isabel e Lídio ficaram em Monte Sion e tiveram grande descendência. Amâncio era um homem de muita fé, católico,  nutria grande respeito por Padre Cícero. Quando sentiu que estava próximo a morrer em 1949, foi de Riacho Fundo a Juazeiro do Norte a pé, como penitência. Disse a seus filhos desejar ser sepultado no solo sagrado de Juazeiro e que nem a família do Ceará nem a de Pernambuco fossem busca-lo. Amâncio faleceu em 25 de outubro de 1949 e sua vontade foi respeitado, sendo sepultado em Juazeiro do Norte pelos familiares que lá residem. 

 

A Escola Amâncio Siqueira Rosa

     A Escola Amâncio Siqueira Rosa tem mais de três décadas de história e foi objeto de estudo por meio de uma Monografia de Graduação, defendida na Faculdade Evangélica Cristo Rei pela ex aluna e atual professora da Rede Municipal, Diana Alves a seguir transcrevemos um trecho de seu trabalho que teve como tema: "Escola Amâncio Siqueira Rosa: uma história de formação de cidadãos" que trata da historia e funcionamento da instituição.

A Escola de Ensino Infantil e Fundamental Amâncio Siqueira Rosa localiza-se a Rua da Paz nº 49 no Distrito de Monte Sion, ficando a 07km2 de distancia da sede do município de Parambu. Órgão administrativo da Prefeitura Municipal, sendo construída no ano de 1984 e inaugurada em setembro de 1985 pela gestão do Sr. Francisco Alves Teixeira. Possuía uma área de 50m2, sendo 29m2 de construção e 21m2 utilizando para o plantio de horta, pomar, farmácia viva entre outros. Neste período a escola era composta por 03 salas de aulas, 01 cantina, 02 banheiros. A escola contava com um número de 12 funcionários, sendo, 07 professores, 03 auxiliares de serviços gerais, 02 merendeiras, todos distribuídos nos três turnos. O número de alunos chegava a 180 no total.
A Escola Amâncio Siqueira Rosa foi construída com o objetivo de resolver o problema de superlotação da Escola de Ensino Fundamental Padre Argemiro, única escola do distrito na época, havendo um elevado número de alunos, devido o crescimento da população. O distrito de Monte Sion continuou crescendo, e muitas adaptações sempre eram feitas em sua estrutura física. Foi então, no ano de 2005 na gestão do Sr. Genecias Mateus Noronha aconteceu a ampliação da escola contendo hoje, 07 salas de aula, uma adaptada à educação infantil; 01 cantina; 01 biblioteca; 01 laboratório de informática; 01 deposito (almoxarifado); 01 banco de livros; 09 banheiros um adaptado para deficientes, dois para educação infantil e seis comuns feminino e masculino; 02 quadras, uma coberta e outra descoberta; uma área que hoje ficou com 19m2 para horta e outras plantas.. (...) possui árvores plantadas em frente onde alunos, professores e funcionários em geral trabalharam juntos em prol de promoverem a educação ambiental com a arborização de toda a escola.
Hoje este estabelecimento de ensino dispõe de um número de 64 funcionários todos distribuídos nos três turnos, garantindo dessa forma a qualidade no processo ensino-aprendizagem dos 219 alunos (2014) que frequentam todos os dias letivos à escola em busca de conhecimento que beneficie a própria comunidade. Procurando promover a igualdade a Escola dar condições de acesso e oportunidades para que os alunos sintam-se seguros na aquisição do conhecimento, capazes de fazerem as mudanças acontecerem e suas vidas e na sociedade. Coordenar, incentivar e avaliar as ações de todos que fazem a Escola são os objetivos seguidos na perspectiva de um trabalho participativo, onde pessoas que não tem tantas experiências buscam aprenderem uns com os outros sendo todos solidários na formação cidadão de cada ser.
A identidade da escola oferece diretrizes gerais, quanto ao que precisa ser desenvolvido visando tornar o trabalho de todos mais agradável, produtivo e voltado para a instrução da cidadania com base na realidade vivenciada pelos alunos e pelos sujeitos que da escola participam, sempre respeitando as potencialidades de cada um e o meio em que vivem. Essa instituição presta serviços a uma comunidade simples, grande parte dos moradores do distrito são trabalhadores rurais e na época do plantio e colheita os pais retiram os filhos da escola para ajuda-los, isso acaba prejudicando o aprendizado das crianças. A escola vem desenvolvendo atividade para mudar essa realidade, conscientizando os pais sobre o prejuízo causados aos filhos no que diz respeito ao ensino. Sensibilizando a importância da participação das famílias na vida escolar das crianças é proposta da escola Amâncio Siqueira Rosa na busca pelo aprendizado de todos, pois a educação não se faz sozinha é com parcerias que a verdadeira cidadania se constrói na transformação dos educandos. 

Ana Siqueira Gonçalves 

O Governador Camilo Santana e o deputado estadual Moisés Braz (PT) inauguraram no dia 10 de agosto de 2017, às 16 horas, a Escola Estadual de Ensino Médio Ana de Siqueira Gonçalves, da Vila de Monte Sion, em Parambu. A unidade educacional recebeu a denominação por meio de projeto de iniciativa do deputado Moisés Braz (PT) aprovado na Assembleia e sancionado pelo Chefe do Executivo Estadual (Lei 16.114/16).

A Escola já se encontra em funcionamento, atendendo a alunos da região. Além do deputado e do governador, deverão estar presentes o Secretário de Educação Idilvan Alencar, diretores professores e alunos de outras escolas da região, demais integrantes do staff estadual e parlamentares da assembleia.

“Fizemos apenas uma pequena homenagem a uma pessoa importante para a comunidade de Monte Sion em Parambu. Dona Ana foi uma benfeitora de toda a comunidade nos mais diversos aspectos. Mais do que justo foi dar à escola o nome dela”, afirma o deputado Moisés Braz (PT)

A homenageada

ANA SIQUEIRA – “Dona Naninha” “Madinha Ana”


Ana de Siqueira e seu esposo Manoel Lau

 
Fachada da Escola Ana de Siqueira Gonçalves

Ana Siqueira Gonçalves, foi uma benfeitora do distrito de Monte Sion entre os anos 1940 e 1990. Natural de Afogados da Ingazeira-PE, filha de Amâncio de Siqueira Rosa e sua primeira esposa, nasceu em 04 de abril de 1917. Aos 19 mudou-se junto com seu pai e sua madrasta, para a Fazenda Riacho Fundo. 

Em meados de 1946 casou-se com Manoel Pedro Neto (família Gonçalves), com quem teve oito filhos. Em 1949 com a morte de seu pai, ela recebe parte das terras da Fazenda Riacho Fundo e a partir daí inicia as doações. Doa terrenos para construção de casas de muitas famílias que chegavam a Monte Sion. Além disso, permitiu que fossem feitos os tijolos e telhas em sua propriedade, bem como a retirada de madeira para o telhado, janelas e portas.

Doou parte do patrimônio para a construção do Cemitério Público do Distrito. Depois, junto com o irmão Manoel Siqueira, o terreno para instalação da Torre de Televisão que retransmitia os canais de TV da época (Manchete, Globo, SBT, TVC e Bandeirantes).

Ainda apoiou o desporto local, ao permitir que em suas terras fosse construído o Campo de Futebol de Monte Sion, onde aconteciam campeonatos e “rachas” de fim de semana. Este fato influenciou a surgimento de time Riomon Futebol Clube (Riomon é mistura dos nomes Riacho Fundo e Monte Sion), em atividade desde a década de 1970. 

Antes de haver quadras poliesportivas nas escolas, era nesse Campo que aconteciam as aulas de educação física do ensino fundamental, com corridas, jogos de vôlei, futebol de campo e gincanas, dentre outras atividades.

Junto com seu esposo, Ana Siqueira permitia às pessoas plantarem hortas em seu terreno, roças de milho, feijão, jerimum, melancia e outros, para a subsistência das famílias, sem a necessidade de lhe pagar renda. O povo de Monte Sion da época a chamava de “Madinha Ana” e, independente da idade, as pessoas pediam sua benção sempre que a encontravam. Foi uma figura muito respeitada e querida pela sua generosidade e afeto com todos independente da classe social, credo religioso ou cor.

Conta-se que era costume seu dividir sempre carne quando matavam algum boi e outros alimentos (arroz, milho, rapadura, farinha…) com as pessoas próximas a sua casa. Era de mesa farta e sentia-se profundamente grata a Deus por ajudar, dividindo o que tinha.

Possuía ainda grande amor pelos animais e não gostava de saber que nenhum era maltratado, indignava-se a partia em defesa destes, sempre com um discurso de muita ternura. Em sua simplicidade e grandeza de espírito, conquistou a muitos, e seu legado de bondade e ainda hoje é referencial de como um ser humano deve portar-se com os semelhantes, independente de seu status socioeconômico.

Após seu último parto em 1961, ela perdeu a visão, mas adquiriu uma aguçada percepção do sentimento humano. Gostava de aconselhar os familiares e amigos sempre os orientando para o bem. Mesmo cega, realizava as tarefas domésticas possíveis, como cozinhar e cuidar dos filhos e esposo. Encara o fato como permissão de Deus, e em sua fé profunda, citava o exemplo de Jó que nunca culpou a Deus por suas provações e ao final foi glorificado na casa do pai.

Nos seus últimos anos de vida, incapacitada pela falta da visão, Ana foi bastante auxiliada por Joaquina Maria da Conceição, irmã de criação desde os 7 anos, quando seu pai, Amâncio Siqueira, a acolheu após ela ter sido abandonada na Feira em Ouricuri (PE) por sua família de retirantes.

Ana de Siqueira Gonçalves faleceu no dia 5 de maio de 1991 em sua casa no Riacho Fundo – Monte Sion, de causas naturais. Deixou 7 filhos, 25 netos, até o momento 17 bisnetos, muitos sobrinhos e inúmeros afilhados. Seu legado e testemunho de vida é de acolhimento e amor ao próximo. Foi sepultada no Cemitério Público de Monte Sion e atraiu uma multidão de pessoas que vieram lhe prestar a última homenagem.

(Trecho da Monografia de Especialização em História do Prof. S. Alves)

Fonte:  http://escolaamanciosiqueira.blogspot.com/p/historia_16.html

http://moisesbraz.com.br/escola-ana-goncalves-sera-inaugurada-nesta-quinta-em-parambu/

 

terça-feira, 22 de março de 2022

O Pífano de Antônio

março 22, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


   Amostra do projeto do primeiro EP da Banda de Pife Afogados da Ingazeira. Nesse trabalho foram gravadas músicas autorais do mestre Antônio do Pife, que contribui para manter viva a tradição das bandas de pífanos no interior do estado de Pernambuco.

   O lançamento será no próximo dia 24, quinta-feira, no canal do Instagram @bdpifeafogados 

  Salve essa data e venha apreciar nosso trabalho, esperamos por todos, até lá!


  O nosso primeiro EP traz cinco músicas inéditas do mestre Antônio e também arranjos do mestre Cacá Malaquias, além de trazer o formato de trio de pífanos. Inovação na formação e arranjos deste universo!

   Esse trabalho foi contemplado pelo edital de Criação, Difusão e Fruição da LAB PE 2021!

Palhaçada é coisa séria

março 22, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 


   E o recado de Odília Nunes:

  Ai, minha gente... Se achega aqui pra ver quem vem somar lindamente pro nosso festival Palhaçada é Coisa Séria.


  É ela, Cibele Mateus, com o espetáculo "Vermelho, Branco e Preto."

  "O espetáculo solo de Cibele Mateus, parte da figura cômica afrodiaspórica “Mateus” da brincadeira do Cavalo Marinho pernambucano em confluência com as narrativas do Nego Fugido - Aparição de Acupe/BA e a narrativa de Macurá Dilê - “O Tempo que teve início, mas não tem fim”.

  A intérprete tece de forma (po)ética narrativas caboclas (Vermelho); o sistema colonial(Branco); a máscara preta (negrume) como afirmação de identidade, ancestralidades e espiritualidades (Preto), trazendo o riso como resistência e denúncia."

  Vai vendo! 
  Dia 27/03, às 17h, no canal no Youtube No meu terreiro tem arte

Clica aqui se inscreve lá e ativa o sininho!

*Projeto incentivado pela Lei Aldir Blanc - Gov. Estado de Pernambuco. (@culturape )

quarta-feira, 2 de março de 2022

Noite de cinema, música e poesia em Afogados da Ingazeira

março 02, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

Acontece hoje (02) o encerramento da Mostra de Cinema Bora Pajeuzar, no Cine São José, em Afogados da Ingazeira - PE.

No palco, Alexandre Morais e Edierck José. Na tela, Dedé Monteiro, Diomedes Mariano, Zecarlos do Pajeú, Genildo Santana, Zé Adalberto, Adelmo Aguiar, Edezel Pereira, Arlindo Lopes, Antonio Marinho (fotos acima) e muitas mais vidas com arte deste Pajeú da gente.

Serão exibidos os filmes "A língua do P", de Alexandre Morais e "O silêncio da noite é que tem sido Testemunha das minhas amarguras", de Petrônio Lorena. No primeiro, as raízes e os frutos poéticos do Pajeú. No segundo, a vida e a arte da poetisa Severina Branca.

Entrada grátis. Início às 20h.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Quando o rei do samba foi impedido de sambar

fevereiro 28, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


Em 1976, a polícia invadiu o Ensaio da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira que ocorria na rua Visconde de Niterói, no Rio de Janeiro. Mestre Cartola, um dos fundadores da agremiação, sentou no asfalto para protestar e lamentar mais uma operação policial contra o Carnaval Carioca. Na época, apesar da festa já aquecer a economia da cidade, o Samba era considerado pelas forças policiais como bagunça.

Antes da construção do Sambódromo, os ensaios e desfiles ocorriam nas ruas do Rio, e a reunião das escolas eram constantemente interrompidas pela Justiça, Polícia e Ministério Público. Uma das principais alegações era que os ensaios e desfiles geravam um ambiente promíscuo e fértil para uso de drogas, sexualização e incentivo ao jogo do bicho.
A imagem emblemática foi capturada por por Eurico Dantas e virou símbolo da resistência do samba contra o sistema.

Texto - Joel Paviotti / Facebook Iconografia da História

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Música afogadense espalhada pelo mundo

fevereiro 03, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


   As redes sociais ajudam, mas não é só por elas que a canção Eu bem que disse tá ganhando o mundo. É por qualidade mesmo. A música tá caindo no gosto de todo mundo que escuta.

  No estilo xote, a canção tem raiz pajeuzeira e já ganhou espaço pela própria junção dos autores. A letra nasceu em Afogados da Ingazeira - PE, autoria de Alexandre Morais e Alexsandro Acioly, que são naturais e moram na cidade. A música é de Nem, afogadense radicado em São Paulo, e de Agenorzinho, um pajeuzeiro radicado nos Estados Unidos.

  A letra foi, a música veio e agora tá indo pra todo canto. E taí pra tu ouvir e dizer se num é verdade esse rasga seda que o Cultura e Coisa e Tal tá fazendo.

   E tem mais! Aprenda e cante. Oh a letra aqui:

Eu bem que disse
 
Eu bem que disse
Que a gente sem a gente
Não ia dá certo
Que essa história de distância
Ia trazer pra perto
A certeza que o certo
Era se acertar
 
Eu bem que disse
Que nós dois sem um dos dois
Iam restar dois zeros
E se tu tá me querendo
Do tanto que eu quero
Me espere que eu te espero
Pra gente se amar
 
Pois fica assim
Se a saudade se chegar
Pegue carona nela
Ou então mande um recado
Espere na janela
Que eu vou daqui voando
Pra te encontrar

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Genildo Santana - Um dia a gente morre

fevereiro 02, 2022 Por Alexandre Morais 1 comentário


 Versos de Genildo Santana (foto) em tema de Lara Sayão


Perde-se a vida ao se ter
Uma vida só de queixa,
Quando um dia a gente deixa
De, nessa vida, viver.
Entre viver e morrer
Há uma grande distinção,
Tem muita gente que não
Tá vivendo, pois só corre,
UM DIA A GENTE MORRE
MAS EM TODOS OUTROS, NÃO!
A vida é um caso sério,
Tenho plena consciência
Que a nossa existência
É realmente um mistério,
Sem querer ser deletério,
Vida envolve Paixão,
Poesia, música, canção,
Farra, festa, samba, porre!
UM DIA A GENTE MORRE
MAS EM TODOS OUTROS, NÃO!
Viver com intensidade
As paixões, o amor ao mundo,
Transformar cada segundo
Em uma eternidade,
A vida envolve saudade
De tempos que longe vão,
Guardados no coração
E a saudade nos socorre,
UM DIA A GENTE MORRE
MAS EM TODOS OUTROS, NÃO!
Tem gente que continua,
Que goste ou que não goste,
Vivendo tal qual um poste
Só que andando na rua,
A vida se perpetua
Em nossa viva explosão
De Amor e de Paixão
Pra quem a eles recorre,
UM DIA A GENTE MORRE
MAS EM TODOS OUTROS, NÃO!
Vida boa tem que tá
Com Potência e Energia,
Estamos certos que um dia
A morte nos vencerá,
Mas até chegarmos lá,
Vamos viver com Paixão,
Pois sem ela é tudo em vão
E a vida de nós escorre
UM DIA A GENTE MORRE
MAS EM TODOS OUTROS, NÃO!

fevereiro 02, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


 

Homem da Meia-Noite comemora 90 anos pelas redes sociais

fevereiro 02, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 


Do Diário de Pernambuco

   O Homem da Meia Noite, o maior símbolo do carnaval de Olinda, completa 90 anos nesta quarta-feira (2). Com o anúncio do cancelamento do carnaval de rua no começo de janeiro, o gigante comemora seu aniversário pelas redes sociais. O clube convidou os apaixonados pelo calunga a vestirem a camisa e demonstrarem sua paixão na internet. Além do movimento on-line, o Espaço Afetivo em homenagem ao gigante está funcionando no Shopping Patteo, em Olinda, e presenteia os primeiros 90 visitantes com um mini bolo de rolo. A ação se repetirá na sede social da agremiação na sexta-feira (4). 

   A diretoria do Clube de Alegorias e Críticas anunciou, em novembro do ano passado, o tema “Ferver!!” em comemoração ao aniversário do gigante. Na ocasião, o cantor Almir Rouche, o Maestro Spok e a professora e passista Adriana do Frevo, foram homenageados pela edição comemorativa. Também recebem as homenagens o grupo “Guerreiros do Passo” e o Paço do Frevo, no Recife, por resguardar o valor histórico do ritmo. 

   Nas redes sociais, o presidente do Homem da Meia-Noite, Luiz Adolpho, parabenizou o gigante, em vídeo divulgado hoje (2). "São 90 anos de história e emoção. Salve, todos os anos, aqueles que construíram essa história. Salve esse povo apaixonado, esse povo que fez o gigante ser cada dia mais gigante. Salve a sua história, salve o seu misticismo. Salve a sua coragem de tomar decisões importantes. Salve ao nosso gigante. Parabéns, não é todo dia que completamos 90 anos. O gigante eterno em nossos corações. Parabéns, Homem da Meia-Noite!”.

Conteúdo completo em: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2022/02/homem-da-meia-noite-comemora-90-anos-pelas-redes-sociais.html

As Severinas na TV Asa Branca

fevereiro 02, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

As Severinas são a atração do Som & Sotaque desta sexta-feira, 04/02. O quadro é levado ao ar no ABTV 1ª edição, o jornal do meio-dia da TV Asa Branca, afiliada da Rede Globo.

Apresentada pelo cantor Benil, a atração também é lançada no canal Globoplay. Alguém tem dúvida que vai ser muito Cultura e Coisa e Tal esse programa?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Maciel Melo - Crônicas de um Cantador

fevereiro 01, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

A gota d’água que não cabia mais no pote

Eu tava aqui, cá com meus botões, procurando assunto, e me lembrei de uma situação que me aconteceu há um tempo atrás, quando fui convidado quase que obrigatoriamente, a testemunhar em uma audiência de conciliação. Mas logo eu? Enfim, como era amigo dos dois lados, tive que usar de muita artimanha para neutralizar a minha presença, e sair de boa. Mas enquanto não se dava o veredito, eu fiquei ali sem jeito, observando cada gesto de cada um, e me dei conta de que eu também já havia estado ali na mesma posição deles. Pois bem, peguei um papel e comecei descrever aquilo:
Cabisbaixos, frente a frente, olho por olho, dente por dente.
Os olhares distantes, já não brilham mais. A íris boia no globo ocular, vasculhando os quatro cantos da sala, evitando mirar na direção um do outro.
Um incômodo infame agoniza a alma, e a inquietude das mãos que não param de bulir nos objetos sobre à mesa: Um martelo de madeira, uma sineta, um calhamaço de provas, e um silêncio feito faca rasgando a carne por dentro. Já não há mais ilusão.
As paredes brancas como a neve, abrem os ouvidos para mais uma audiência. É apenas mais uma, mas mesmo assim põem os tímpanos à disposição dos argumentos da defesa.
Não existe réus, por enquanto. Apenas o queixume recheado de dúvidas e suposições. Mas toda queixa tem os dois lados da moeda, e é exatamente pela falta da moeda que surge um terceiro lado: o lado invisível, o lado vazio, o lado obscuro, o lado que se tem, e só foi posto à mesa porque o lado de fora resolveu invadir o lado de dentro; aí, já é invasão de privacidade. Aí o peito estoura, o sangue desunera, a cabeça explode, o juízo acelera, e não há cabresto que esbarre um orgulho ferido vindo a galope, num terreno íngreme, sem freio e desembestado.
É o fim, é o medo, é o ponto final, é o degredo, é a gota d’água que não cabia mais no pote.

Maciel Melo

Raimundo Carrero: “A literatura é um grito de dor”

fevereiro 01, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


Da Revista Algo Mais   

Cinco anos após ter sido acometido por um AVC, depois de dois anos de pandemia e completando 75 anos em 2022, Raimundo Carrero segue produzindo e respirando literatura. A escrita e a leitura estão na sua rotina na sala de sua casa. Vários livros nas mesinhas ao lado da poltrona onde ele mergulha no seu universo ficcional, ao lado de quadros e lembranças da sua longa carreira. Com uma caminhada profissional assumindo os papéis de jornalista, professor, gestor público, autor de peças, contos e romances, ele retoma nos próximos dias a sua oficina de literatura, que é reconhecida nacionalmente. Foi nesse período de preparação dos encontros literários e da produção de um novo livro que ele conversou com Rafael Dantas sobre o momento cultural do País, sua trajetória e os planos que ainda fazem seus olhos brilhar. Entusiasmo, aliás, foi a palavra que ele, que é vencedor de alguns dos maiores prêmios da literatura brasileira, mais repetiu ao longo deste bate-papo sobre sua carreira, sobre o momento atual da literatura e sobre o projeto do que poderá ser seu último livro.

No início da entrevista, entregamos para Carrero uma reprodução da sua primeira reportagem, de 24 de dezembro de 1969, no Diario de Pernambuco.

Você lembra da sua primeira matéria assinada no Diario de Pernambuco?

De cabeça é difícil.

A primeira reportagem assinada foi essa aqui.

Rapaz, onde é que você arrumou isso? Isso é muito importante para mim. Foi esta matéria que me fez entrar no Diario de Pernambuco. Dezembro de 1969. Eu estava estagiando. Você está me causando uma emoção incrível agora. Evaldo Costa (diretor do Arquivo Público de Pernambuco) lutou para localizar isso e não conseguiu.

Quando você pensou em começar a escrever?

Um dia eu decidi ser escritor. Eu já escrevia, mas decidi ser escritor. Quando eu era ainda adolescente, pensei: vou escrever contos. Mas o que é um conto? Fui na Companhia Editora Nacional, era a maior do Recife na época, na Rua Imperatriz. E me venderam Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles. Eu comprei, fui para casa, comecei a ler, me entusiasmar e aquilo foi muito bom. Então, eu sempre fui muito ousado, quando comecei a ler mais e escrever.

Como foi o seu começo no jornalismo?

Um dia pensei: eu preciso trabalhar. Aí eu fiz um concurso na Companhia Brasileira de Vidros, era uma vaga especializada para contador e eu fui reprovado. Na ansiedade de entrar no mercado de trabalho, descobri que o Banorte periodicamente realizava uns concursos para atrair funcionários para o banco. Eu fiz e passei, mas no psicotécnico terminei reprovado. Na prova oral, a moça disse: “o senhor não tem espírito nenhum para bancário. Se o senhor quiser tentar, eu aprovo e o senhor entra. Mas…” Eu respondi que não queria um emprego para o resto da vida, mas para entrar no mercado de trabalho. Ela me disse para procurar outra coisa, deixou em aberto e perguntou: “Vá tentar a sua área de atividade. Qual é a sua área de atividade?”. Eu disse que gostava de escrever. Ela disse para eu procurar Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho… Daí comecei a achar que poderia ser jornalista.

Como foram os primeiros passos no jornalismo?

Eu me candidatei ao estágio no Jornal do Commercio. Era um estágio até bem-feito. Mas o JC estava entrando na primeira grande crise financeira da empresa e quase quebrou. Ainda assim, fiquei uns três meses. Quando terminou o período, estava aprovado, mas não tinha emprego. Desci a escada e fui ao Diario de Pernambuco. Também disseram que não tinha estágio. Mas mesmo assim, todos os dias eu ia para lá e ficava de meio-dia até umas 3 da tarde, conversando, ouvindo, sabendo como se fazia o jornal. E o Dr. Antônio Camelo chamou o chefe de reportagem, Ivancil Constantino, e mandou me dar uma pauta. Comecei a entrar em crise porque não conseguia trabalho, fazer estágio, nem escrever. Só publicavam umas coisinhas, bobagens. Eu pensei que estava ficando velho e não tinha feito nada, mas só tinha 20 anos. Mas na minha cabeça já era muito. Então apareceu a Santinha, em Alagoa Nova, uma criança que dizia que estava vendo Nossa Senhora.

Como de candidato a estagiário você mergulhou nessa história?

Na época, o Diário da Noite, que fazia umas matérias espetaculares, disse na manchete: Fanáticos sequestram a Santinha de Alagoa Nova. Aí o jornal começou a entrar em crise: vamos mandar alguém. Começou a ouvir os repórteres e ninguém quis. Daí me convidaram: “Você quer ir acompanhar essa história da santa? Não paga nada, não. Mas você abre o caminho”. Quando cheguei lá disseram que a Santinha não falava com ninguém. Fui na feira, comprei uma boneca bem grande e levei para ela. O jornal achou isso extraordinário. E foi manchete. Passei uma semana lá, uma semana fazendo matérias. A partir daí, eu já estava contratado, comecei a ser jornalista do Diário de Pernambuco. Cheguei no jornal em junho de 1969. E eu aproveitava e escrevia críticas literárias. Eu lia muito, na época, lia excessivamente para um rapaz que não tinha uma formação acadêmica, eu escrevia quatro a cinco artigos por semana.

Geralmente as pessoas falam com o Carreiro escritor. Mas antes de falarmos de literatura, quem foi o Carrero jornalista?

O Diario de Pernambuco se entusiasmava muito comigo porque apresentei uma massa de trabalho grande. Tinha uma disposição para o trabalho imensa, o que é uma coisa natural na minha vida. Eu sou entusiasmado e trabalhador. Não tinha nenhuma experiência de redação jornalística. Eu comprava na banca o Jornal do Brasil e a Última Hora, que eram os melhores jornais da época, acordava cedo no domingo, colocava os dois jornais na mesa e ia treinar. Ler o jornal, copiar o que eles faziam e criar como seria a minha redação. O jornal me pedia para fazer reportagens do dia a dia, o que se chama hoje Vida Urbana. Até que comecei a cobrir os setores de trânsito e telecomunicação. Isso em 1970.

Às vezes o jornal não tinha carro nem dinheiro para táxi. Eu ia andando e para mim não se constituía em nenhum problema me deslocar do Diario de Pernambuco para qualquer local a pé. Depois me chamaram para a editoria de polícia e fiz coberturas imensas. Eu deitava e rolava. Era uma época de censura, mas ela atingia mais questões políticas, não a área policial. Depois fui transformado em editor de cidades. Era o Vida Urbana. Ao lado disso, eu publicava semanalmente alguns artigos literários. Naquela época o jornal dava toda importância à literatura. Toda semana tinha um caderno literário com 12 páginas. Ao lado do escritor, nasceu também o jornalista. Depois fui chefe de redação e secretário noturno. Nenhuma dificuldade me impedia de trabalhar.

No final deste ano você chegará aos 75 anos, enfrentando uma pandemia e cinco anos após passar por um episódio de AVC. Como é a sua rotina hoje e o que você está produzindo?

Eu trabalho todos os dias. Agora mesmo aposentado, depois do AVC, trabalho todos os dias. Depois do AVC já escrevi cinco livros, não consigo parar hora nenhuma. Aqui eu sento (Carrero se arruma na poltrona perto da janela, pega o notebook que ele trabalha no colo), e vou escrever. Aqui (aponta para uma pilha de livros ao lado) tem meus livros quando preciso fazer alguma consulta. Também não deixei de fazer oficinas, que é uma coisa que faço com maior prazer.

Como você avalia o momento atual da literatura pernambucana e brasileira?

Eu acho muito boa. Em certos aspectos até melhor que em outros momentos. Jovens, pobres, sem eira nem beira que escrevem, têm acesso às editoras, publicam. São esses escritores que precisamos. Esses são importantes porque trazem a dor do País na sua intimidade. A intimidade da dor, não só a dor. Costumo dizer aos meus alunos, não escreva sobre a dor, mas o sentimento da dor. Viemos de uma educação em que tudo é feio. Se é bonito é porque tem muita riqueza. A literatura é vista como uma coisa de fascínio e não é. Você tem que optar entre a beleza e a crítica social. A crítica social é mais importante que a beleza.

Nos últimos anos, as suas obras mexeram com temas muito atuais da sociedade brasileira, como em Estão matando os meninos. Quais os temas que mais o incomodam atualmente e que estão mergulhados na sua escrita?

Primeiro a miséria e o tratamento que nós damos à miséria. Não tem sentido que para perseguir os bandidos os miseráveis tenham que morrer. Por que houve troca de tiro com a polícia e o menino morreu? Quando s e mata um operário, está matando a produção do País. Além do ser humano, está causando um prejuízo muito sério ao País. Escrevi esse livro (Estão matando os meninos) porque estava vendo a TV, sentado para descansar meia hora, daqui a pouco aparece um pai chorando, uma mãe chorando, uma família destruída por conta de uma bala. Nunca vi bala perdida pra gostar tanto de menino! Entrou na casa do pai. O menino estava lá atrás estudando. Teve um idiota que disse que a literatura era o sorriso da sociedade. Eu digo agora em A luta verbal (livro que ainda está em edição) que a literatura é um grito de dor. Quando um livro é escrito, a população inteira entra em erupção. É um vulcão. Se o livro não é um vulcão não serve para ser livro. Se um livro não coloca diante do leitor as dores, o sofrimento, a angústia do País não serve para nada.

Conteúdo reproduzido de: https://revista.algomais.com/entrevistas/a-literatura-e-um-grito-de-dor