
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
Ronaldo Correia de Brito - Procura-se um personagem
Ronaldo Correia de Brito |
Dália Nunes de Brito professava uma religião popular, que parecia inventada por ela mesma. Nesse cristianismo sertanejo não aconteceram as sangrentas matanças dos cruzados, nem as fogueiras dos tribunais da Inquisição e nunca se mencionou a usura de Roma, acumulando tesouros ao longo da história. Minha avó tinha desapego aos bens materiais e fazia questão de não possuir quase nada, além das terras que meu avô deixara. Os únicos objetos intocáveis na casa de portas escancaradas eram as imagens dos santos e a mesinha altar com toalha de renda de bilros, dois castiçais de vidro e uma jarrinha de porcelana.
Vovó rezava um rosário às três da manhã, outro ao meio-dia e um terceiro ao anoitecer. Valia-se do Coração de Jesus e do marido morto, em todas as agonias. Uma vez por ano festejava o Sagrado Coração, na data em que ele fora entronizado na parede de onde nunca deveria sair. A renovação, como se chamava a festa, acontecia no mês de julho, época de fartura.
Os reisados cantavam:
“Quando entro nessa nobre sala
É pelo claro dessa luz
Louvor viemos dar
Ao Coração de Jesus”.
As mulheres entoavam benditos, os homens soltavam fogos de caibro, servia-se aluá de abacaxi, bolo de puba, pão de ló de goma, sequilhos e biscoitos. Tudo modesto e exíguo. Porém, não existia felicidade terrena maior do que aquela.
No Natal, o Sagrado Coração ficava um pouco esquecido e desprestigiado. Minha avó só cuidava do Jesus Cristinho, um meninozinho de madeira, rosado e risonho, vestido numa camisa de seda, esculpido lá longe em Portugal, e recebido de presente da nossa tia-avó Nizinha. Diferia de todos os Meninos-Deus que conhecíamos, por ser igual a nós. Debaixo do vestidinho rendado, lá entre as coxas, tinha como todos os meninos um pinto e dois ovinhos. Minha tia Alzenir achava uma profanação e tentava por todos os meios esconder a sexualidade do Deus Menino. Pensou em mandar castrá-lo, livrando-se da nossa curiosidade. Todas as vezes que passávamos diante da lapinha, levantávamos a saia do Menino e olhávamos o seu sexo, comparando com o nosso. Era difícil imaginar que aquele camarada deitado na manjedoura de palha, em tudo semelhante a nós, crescera e se tornara o Senhor pregado logo acima na parede, vigiando-nos com os seus olhos bondosos, mas severos.
Minha avó confeccionava os enfeites da lapinha com lã de ciumeira e de barriguda. O tempo livre de que ela dispunha, entre os trabalhos e as rezas, ocupava no artesanato minucioso, dando vida a carneiros, bois, burros e camelos. As figuras de José, Maria e dos Reis Magos, de louça modesta, eram as mesmas dos outros anos. Mais bonita que a lapinha da nossa avó, só mesmo a das irmãs do alfaiate Zé de Rita, famosas no Crato.
O ano tornava-se curto para elas construírem a cidade cenário que ocupava quase uma sala. Havia de tudo naquele universo miraculoso: uma Jerusalém reproduzida, montanhas, lagos com cisnes e peixes, exércitos de soldados romanos, vilas, currais, bichos domésticos e selvagens, florestas, campos, pastores e pastoras em profusão, anjos e santos, tudo distribuído nos três níveis: o superior divino; o intermediário e o terreal. Era impossível imaginar-se alguma coisa que não estivesse representada ali. Uma vez, juro, cheguei a avistar uma Marilyn Monroe de papel, seminua, pendurada no galho de uma árvore.
O cinema trouxe ao Crato o glamour hollywoodiano e a fantasia dos natais com neve e pinheiros. As lapinhas perderam prestígio, como o catolicismo. O cineasta italiano Federico Fellini anunciou o fim da mitologia cristã, mas teimei em saudar o Jesus pagão da minha infância, em teatro e música, numa festa batizada com o nome de Baile do Menino Deus. Um dia, convidaram-me para conversar com uma turma de colégio de classe média, no Recife. A escola decidira fazer um espetáculo de Natal e os meninos, em torno de vinte, escreveriam o texto.
Queriam minha ajuda, um empurrãozinho. Aceitei e fui ao encontro. Eram crianças inteligentes, com certa automação dos jogos de computador e vídeo games. Propus um começo. Anotaríamos a lista dos personagens do Natal, os mais importantes. Gritaram todos ao mesmo tempo. Pedi ordem. Surgiram os nomes, as figuras famosas das decorações natalinas dos shoppings: Papai Noel, o trenó, as renas, a árvore de natal, a neve. Estranhei as respostas. Insisti. Lembraram os gnomos, os duendes, a oficina de brinquedos do Gepeto e os anõezinhos de Branca de Neve. Assustei-me. Não acreditava no que ouvia. Não é possível! Quem são os verdadeiros personagens da festa de Natal, aqueles, sem os quais nada teria acontecido? Todos concentrados. Espera aí… Espera aí… E nada. Não vinha um nome. Apelei. Lembrassem pelo menos do personagem mais importante, o que deu origem à noite de Natal. Por fim, um geniozinho gritou: Já sei! Já sei!
Que alívio!
E com ar vitorioso anunciou:
– O peru da Sadia.
Sivuquiando - Com Beto Miranda e grande elenco
Em seus mais 50 anos de carreira, o saudoso Sivuca passeou com desenvoltura por diversos estilos musicais, do forró ao jazz, do choro à bossa nova, mas sem jamais relegar o frevo, influência direta de Recife em sua formação profissional. Prova disso são os 4 volumes da série Forró e Frevo, lançados pelo músico paraibano na década de 80.
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Beto Miranda, autor de de Sivuquiando |
A música chega às plataformas digitais nesta primeira semana de janeiro e também está inserida em um projeto de Beto Miranda para lançamento de um CD físico, juntamente com outras canções autorais. 2022 está apenas iniciando, e que ele transcorra com a mesma alegria e energia de “Sivuquiando”!
São José do Egito celebra o cantador Louro do Pajeú
Para comemorar o nascimento do poeta Lourival Batista – 6 de janeiro – está sendo realizado no Sítio Santa Helena, em São José do Egito, Sertão do Estado, o festival ‘De Repente Louro’. O evento foi aberto nesta quinta-feira e vai até o domingo (9).
Com as conhecidas restrições impostas pela Covid-19, o evento que sempre ocorre em praça pública e atrai uma multidão, teve de ser reestruturado. Por isso, aconteceu numa área privada, ao ar livre e com rígido controle de acesso.
Só com a apresentação do comprovante de vacina, as pessoas são autorizadas a entrar na festa, que neste ano tem formato semelhante ao Festival Zeto: udistoque pajeuzeira, anualmente realizado em meados de julho.
Outra característica do evento deste ano é a participação solidária. Com um mínimo de patrocínio, que garantiu apenas a infraestrutura básica, a exemplo de som e iluminação, o De Repente Louro, só foi possível porque os artistas se prontificaram a se apresentarem sem recebimento de cachê. Atração à parte é a presença da conhecida Rural, de Roger de Renor e Niltinho.
Organizadora do festival, a cantora Bia Marinho, filha do homenageado, revela o reconhecimento e o carinho do povo pelo poeta.
“A festa só está acontecendo por conta do apoio dos amigos, que louvam a contribuição de Louro para a poesia e o Pajeú”. E acrescenta: “Aqui não vale a história de que santo de casa não faz milagre. Louro é idolatrado pelas pessoas”.
Também organizador da homenagem, o poeta Antônio Marinho – do grupo Em Canto e Poesia – destaca um dos objetivos do evento, que é ao mesmo tempo revisitar o passado e abrir perspectivas para continuidade da produção poética.
“Não tem sentido ficar só louvando o passado, como não tem sentido achar que está se fazendo uma coisa sem passado. O festival cumpre o papel de ponte entre a tradição e a contemporaneidade”, arremata Marinho.
Na abertura, nesta quinta-feira (6), aconteceu o lançamento do livro O Aventureiro e o Boêmio – sobre Lourival e Pinto do Monteiro –, de autoria de Marcos Nunes Costa e Raimundo Patriota, que é filho de Louro.
Ocorreu ainda mesa de glosas, cantoria de duas duplas de violeiros, dos grupos As Severinas e Em Canto e Poesia, do sanfoneiro Douglas Silva, do cantor Val Patriota e da cantora Bia Marinho.
Nessa sexta-feira (08), o poeta Eugenio Jerônimo faz recital e o cantor Zé Linaldo lança o CD Um Pé de Tempo. Durante os outros dias diversos artistas, que vão aderindo ao festival, passarão pelo palco.
Louro do Pajeú – Lourival Batista Patriota (Louro do Pajeú) nasceu em São José do Egito em 1915 e faleceu em 1992.
Considerado um dos maiores repentistas da história protagonizou célebres pelejas com outro ícone da cantoria de viola, o paraibano Pinto do Monteiro.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Ademar Rafael - Crônicas de Bem Viver
Ademar Rafael |
O incansável pesquisador e escritor Fernando Pires, funcionário aposentado do Banco do Brasil e internauta desde os primórdios da rede mundial dos computadores, entrega para esta e para as gerações futuras uma obra digna de todos os adjetivos de qualidade. O livro “Afogados da Ingazeira – Páginas da sua história” integrará o rol das publicações obrigatórias em todas bibliotecas que queiram informar com exatidão os fatos históricos da região em horizonte temporal distante. É uma obra candidata a seguir o caminho do sucesso obtido com “Afogados da Ingazeira – Memórias.”
Deixar de ler este livro é abdicar do direito de conhecer nossa história, inteligentemente ordenada, descrita em formato claro e fidedigno. O autor, com a ética que o caracteriza, conta os fatos como eles aconteceram, as “Notas do Autor” sevem para clarear o tema, jamais alterar seu conteúdo.
Flávio Leandro - Pra mim, 2022 será o ano da ressignificação!
Filme produzido no interior da Paraíba vence Festival Internacional de Cinema Infantil
“A Botija é uma tentativa de fazer um resgate histórico da cultura da oralidade que vem se perdendo ao longo do tempo, dessa forma mantendo viva a tradição de propagar conhecimentos presentes no imaginário popular por meio de narrativas e produções culturais”, falou a diretora.
A animação foi produzida a partir de contemplação na lei Aldir Blanc e a produção foi apoiada pela Prefeitura Municipal de Boa Vista/PB por meio da Secretaria de Educação, Turismo, Cultura e Desportos. A produtora responsável pelo filme foi a Black Raven.
Com produção de Flávio Alex Farias, dublagem de Rebeca Soares e Rou Tavares e ilustrações do boavistense William Andrade, ‘A botija’ em seu enredo conta a história de Lavínia, uma menina muito curiosa, que viaja no tempo através das memórias do seu avô. Nesse episódio, Manoel conta a história de um homem que se aventura em busca de uma botija que recebeu em sonho.
“Aproveito para destacar a importância da participação da animação em um festival desse porte, uma vez que a produção consegue uma propagação mais abrangente. Na verdade, não há palavras que consigam expressar fielmente a sensação que essa vitória nos trouxe, então, gostaria apenas de agradecer imensamente a toda equipe que fizeram um excelente trabalho ao dar corpo, voz e vida ao roteiro”, conclui Menara.
Copiado de https://www.pbagora.com.br/noticia/cultura/filme-produzido-no-interior-da-paraiba-vence-festival-internacional-de-cinema-infantil/
O eterno acordeon de Sivuca
Ao ter seu primeiro contato com a sanfona, aos 9 anos de idade, Sivuca não demorou muito para encontrar ali sua verve artística, pois já era um nome presente em feiras e festas populares, o que o levou a se mudar para Recife aos seus 15 anos, onde trabalhou na Rádio Clube de Pernambuco e recebeu o apelido de Sivuca.
Assim, as portas para o sanfoneiro seguiram se abrindo, e logo em 1951 veio a lançar uma de suas clássicas faixas, ‘Adeus, Maria Fulô’, canção que compôs junto de, a esse momento seu mestre, Humberto Teixeira, se tornando um marco para o baião no país.
Ao morar em Nova Iorque por um período que perdurou de 1964 a 1976, Sivuca, que se encontrava em uma crescente visibilidade, encontrou a possibilidade de desconstruir a visão da música clássica frente ao acordeon nos espaços dos conservatórios, pois até então era visto apenas como uma forma de matar a solidão dos fazendeiros, não interagindo com a sonoridade da elite.
Tal feito levou o arranjador e multi-instrumentista a trabalhar para nomes como Miriam Makeba, assumindo sua direção musical, e Harry Belafonte, que apesar do grande impacto para sua carreira, Sivuca não se via confortável para fazer aquilo que sabia, que era tocar a música de sua terra, o sentimento do nordeste.
Foi então que o acordeonista conheceu sua companheira Glória Gadelha, elo que o trouxe de volta para solos brasileiros, material e espiritualmente, o presenteando com a composição de uma das jóias do forró brasileiro, ‘Feira de Mangaio’, canção que explodiu na voz de Clara Nunes!
Sivuca viveu com o coração em festa, levando sua feliz sanfona estrada afora, e hoje, 15 anos de sua passagem, sua imagem permanece entranhada dentro da música brasileira, como quem inseriu o acordeon como instrumento presente na cultura popular, e que foi capaz de sentimentar em forma de som a riqueza de suas raízes!
Para além da música, Sivuca enalteceu a cultura regional nordestina, e confrontou toda forma de negligência que a sanfona sofria dentro do cenário da música clássica e internacional, colocando o ‘instrumento do mato’ para dentro de conservatórios de música do mundo!
Copiado de https://immub.org/noticias/o-eterno-acordeon-de-sivuca
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
A amizade e Feliz Ano Novo

Maciel Melo / Foto: Claudio Gomes
A amizade

Os verdadeiros amigos
não guardam rancores,
mágoas, nem desafetos,
e muito menos avareza.
Os verdadeiros amigos
guardam saudades,
lembranças de momentos sublimes, e mesmo distantes mantém o laço afetivo de uma grande amizade.
Os verdadeiros amigos acreditam na coletividade, na amplidão do ser, no poema que sonha, que ri e que chora, no tesão do agora, no amargo-doce de amar a vida. Os verdadeiros amigos não deixam nada pra depois.
Os verdadeiros amigos não nos esquecem jamais.
Maciel Melo.
Um feliz ano novo pra você, e todas as pessoas que você ama.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
Versos de Saudade - Alexandre Morais
Saudades
Versos de Alexandre Morais
Artes de Marcos Pê
Muitas mulheres me amaram
E eu também as amei
Mas por razões que eu não sei
Todas me abandonaram
Umas até retornaram
Mas por virem sem vontade
Foram com facilidade
E por esse vai e vem
Fiz do peito um armazém
Pra empaiolar saudade
Algumas, algumas vezes
Voltaram mais de uma vez
Com muitas fiquei um mês
E com poucas fiquei meses
Mas meus costumes burgueses
Eram pobres na verdade
E o banco da mocidade
Empresta, mas faz cobrança
Fiz do peito uma poupança
Pra depositar saudade
De apaixonado eu fiz fama
Mas no amor só sofri
E saudades já senti
Três vezes da mesma dama
Se ia, ficava o drama
Ao voltar, com falsidade
Trazia só a metade
Da que veio no começo
Fiz do peito o endereço
Da morada da saudade
A saudade é troço ruim
Pesado de carregar
Poucos podem suportar
E muitos pedem o fim
Quem veio por onde eu vim
Sofreu seca e tempestade
E sabe que a liberdade
Não é mar é uma ilha
Fiz do peito uma rodilha
Para o pote da saudade
Nessa vida o que se planta
Nem sempre é o que se colhe
Por mais que se adube e molhe
Tem talo que não levanta
Como eu, quem se encanta
Com beleza e quantidade
Esquece da qualidade
E foi não foi quebra a cara
Fiz do peito uma coivara
Com garranchos de saudade
Quando só na noite fria
Ainda escuto o barulho
Que o silêncio do orgulho
Grita na mente vazia
Comprei tudo que eu queria
Mas vendi a lealdade
Comparado à mocidade
Quem foi moto hoje é lambreta
Fiz do peito caderneta
Pro fiado da saudade
Como autêntico boêmio
Em bares eu fiz pernoite
E enquanto existisse noite
Uma taça era o meu prêmio
Agora sofro abstêmio
No balcão da crueldade
E o prêmio é uma grade
Que o coração rodeia
Fiz do peito uma cadeia
Para aprisionar saudade
Na igreja eu pouco fui
Nunca pisei num altar
Porque pensava: casar
Em nada nos evolui
Mas a casa quando rui
É outra a realidade
E solidão quando invade
A roda roda ao contrário
E eu fiz do peito um rosário
Só com contas de saudade
domingo, 26 de dezembro de 2021
Pelejas do Pajeú marcam os últimos lançamentos da Cepe Editora em 2021
Por Cleide Alves
Na
próxima quinta-feira, dia 30, a Cepe Editora lançará no município de Itapetim, Sertão de
Pernambuco, três
títulos que evidenciam
a produção poética nordestina. Dois deles saem pela Coleção Pajeú e remetem a
nomes referenciais do repente, cujos centenários de nascimento são comemorados
em 2021: Pedro
Amorim (O Poeta dos Vaqueiros)
e Dimas
Batista (Obras Poéticas). O terceiro
livro,
O Aventureiro
e o Boêmio, tem
coautoria do professor
do Departamento
de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Nunes e do escritor e advogado Raimundo
Patriota, filho de Louro do Pajeú. O lançamento acontece às
19h, na Praça Rogaciano
Leite, dentro
das comemorações do aniversário da cidade, que completa 68 anos
dia 29.
O amor, o vaqueiro aboiador, a vida no Sertão, a saudade dos pais falecidos e a tristeza pela morte prematura de uma filha serviram de mote para Pedro Amorim escrever as poesias e os sonetos que compõem O Poeta dos Vaqueiros, agora relançado pela Cepe Editora. Nascido em Desterro (PB), em 18 de setembro de 1921, Pedro Vieira de Amorim migrou para Itapetim (PE) ainda criança, onde faleceu em 2011. Tinha na agricultura sua atividade principal, mas era famoso pelas poesias, cantorias e o bom humor.
Com
116 páginas, o livro está dividido em duas partes: a primeira tem 18 poesias e
a segunda, 12 sonetos. O Poeta dos Vaqueiros,
publicado originalmente em 1988, ganha nova impressão com acréscimos de versos
que Pedro Amorim fez depois, muitos ainda sob o impacto da perda da filha
Cléfira. “Meu pai tinha como sonho a reedição deste livro”, informa Bartira
Amorim, em nota de agradecimento na abertura do título.
“O Poeta dos Vaqueiros é a
revelação criadora do seu mundo sertanejo, vaqueiro e poeta. Seus versos têm a
sonoridade do aboio dos vaqueiros e a virilidade da voz do Sertão”, destaca o
advogado José Rabelo de Vasconcelos, no prefácio.
Obras
Poéticas - Vindo de
uma tradicional família de cantadores, irmão de dois outros nomes estelares da
poética sertaneja (Lourival/Louro do Pajeú e Otacílio), Dimas Batista é
homenageado pela Coleção Pajeú com a coletânea Obras
Poéticas.
Cantador, violeiro e repentista admirado por artistas e intelectuais, como
Alceu Valença e Ariano Suassuna, foi considerado um metrificador de raro
talento e o mais erudito entre os poetas populares.
“Atrevo-me
a reputá-lo como o poeta mais caprichoso que Itapetim ofereceu ao mundo até a
atualidade. Seu verso era lapidado, feito sob uma medida ímpar, farto em rima e
rico em oração, tal era seu capricho na escultura da estrofe”, destaca no
prefácio o advogado,
poeta e pesquisador itapetinense Saulo Passos.
Dimas Batista nasceu no povoado das Umburanas,
hoje Itapetim, em 21 de julho de 1921. Começou na cantoria aos 15 anos de
idade, por mais de 15 anos ganhou o mundo e fez fama com sua arte, sendo
vencedor em todas as contendas que participou. Conviveu, fazendo duplas, com
nomes fundamentais da chamada “Era de Ouro” da poesia popular nordestina.
Grande mestre, tinha predileção por alguns gêneros poéticos, como o martelo, o
galope à beira-mar e o quadrão trocado, considerado um dos mais difíceis, além de grande
glosador.
Aos 50 anos de idade, formou-se em Letras,
cursou ainda Direito e Pedagogia. Falava com fluência inglês, francês e
espanhol. Abandonou a viola e se tornou professor de literatura e língua
portuguesa. Com 265
páginas, o livro Obras Poéticas, Dimas Batista reúne mais
de 40 textos, entre poesias, sonetos, versos e trechos de livros publicados
ainda em vida. Dimas Batista faleceu aos 65 anos, em Fortaleza, vítima de um
acidente vascular cerebral, e foi sepultado em Tabuleiro do Norte (CE), onde
residia com
a família.
Pinto
Velho do Monteiro nasceu em 1895, a 21 de novembro, na então Vila do Monteiro,
na Paraíba. Exerceu várias profissões, em diversas regiões. Foi vaqueiro,
soldado de Polícia, guarda do serviço contra a malária no Norte do país,
auxiliar de enfermagem e vendedor de cuscuz no Recife, antes de se
fixar na viola.
Já Lourival
Batista Patriota, o Louro do Pajeú, nasceu em 1915, a 6 de janeiro, na Vila de
Umburanas, hoje Itapetim. No prefácio, o poeta Joselito Nunes descreve os companheiros
de tantas pelejas: “Sempre que eu encontrava Louro em São José do
Egito era de sandálias japonesas, camisa aberta ao peito, um cigarro pendente
num canto da boca, uma bengala pendurada num dos braços, um pacote de pão num
sovaco e um livro no outro. Já de Pinto ficou uma imagem que publiquei no livro
e que chama a atenção pelo inusitado. Ele deitado na cama, onde passaria seus
últimos dias, tendo ao lado uma mesinha de cabeceira, sem nenhum frasco ou
caixa de remédio, mas sim com uma bisnaga de óleo singer. Alguma coisa alusiva
a uma possível máquina de fazer versos que ali repousava”.
Os
primeiros títulos da Coleção Pajeú, criada pela Cepe para dar mais visibilidade
à produção poética sertaneja, foram lançados em junho de 2021: Meu Eu
Sertanejo, antologia que reúne 40 poemas do compositor e repentista de Serra
Talhada Henrique
Brandão; Redes
de poesia, primeiro livro do poeta Andrade Lima, com cerca
de 170 poemas de
temáticas diversas; e Mesas da 1ª Feira de Poesia Popular, que
registra as poesias improvisadas por 19 poetas que participaram das três mesas de
glosas realizadas na feira promovida pela Cepe, em São José do Egito, em 2019.
Serviço:
O Poeta dos Vaqueiros (Coleção Pajeú): R$
30,00
Obras Poéticas (Coleção
Pajeú): R$ 45,00
O Aventureiro e o Boêmio: R$ 40,00
sábado, 18 de dezembro de 2021
A boa nova para este Natal
Uma boa nova foi anunciada. A data é a véspera da véspera de Natal. O local é uma bodega. E todos estão convidados para receber a mensagem. Aliás, a mensagem e o verso.
Nada de profecias. Estamos só anunciando as obras de dois bem feitores. Ou a obra, porque esta eles fizeram juntos. É o lançamento do livro A Mensagem e o Verso, fruto da fé, das reflexões e das artes de Celso Brandão e Ademar Rafael.
Adiantando uma coisinha, o Cultura e Coisa e Tal fez uma pergunta pra cada um. Ei-las, com as respectivas respostas e fotos:
Celso, qual a mensagem do livro A Mensagem e o Verso?
É tentar chegar aos corações das pessoas. Posso até está sendo muito pretensioso, mas na verdade todas as mensagens foram inspiradas no texto sagrado e de forma compilada apresentamos uma mensagem de autoestima, tentando levar alimento para alma que muitas vezes está faminta. É um livro pra se ler todo dia, degustando, sorvendo cada partícula.
Ademar, qual o verso do livro A Mensagem e o Verso?
De forma objetiva o verso se faz presente em cada uma das 200 estrofes conectadas com as mensagens bíblicas e os respectivos comentários. No formato subjetivo o verso aparece como a inserção do “doce da poesia” no ácido cotidiano que enfrentamos.