sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Ronaldo Correia de Brito - Procura-se um personagem

janeiro 07, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

    

Ronaldo Correia de Brito
Quem entrava na casa de minha avó materna, avista na parede da sala de visitas uma imagem do Coração de Jesus, litogravura suíça, herança de família. Logo abaixo dessa imagem em tons verdes e pretos, lembrando um ícone russo, o retrato do meu avô Pedro Zacarias de Brito, fotografado dentro do caixão em que o enterraram. Esses dois personagens reinavam absolutos na casa grande e antiga do sítio Boqueirão, no Crato. Era impossível não avistá-los uma centena de vezes por dia e mais impossível não se sentir olhado, vigiado e protegido pelos dois senhores.

   Dália Nunes de Brito professava uma religião popular, que parecia inventada por ela mesma. Nesse cristianismo sertanejo não aconteceram as sangrentas matanças dos cruzados, nem as fogueiras dos tribunais da Inquisição e nunca se mencionou a usura de Roma, acumulando tesouros ao longo da história. Minha avó tinha desapego aos bens materiais e fazia questão de não possuir quase nada, além das terras que meu avô deixara. Os únicos objetos intocáveis na casa de portas escancaradas eram as imagens dos santos e a mesinha altar com toalha de renda de bilros, dois castiçais de vidro e uma jarrinha de porcelana.



   Vovó rezava um rosário às três da manhã, outro ao meio-dia e um terceiro ao anoitecer. Valia-se do Coração de Jesus e do marido morto, em todas as agonias. Uma vez por ano festejava o Sagrado Coração, na data em que ele fora entronizado na parede de onde nunca deveria sair. A renovação, como se chamava a festa, acontecia no mês de julho, época de fartura.

   Os reisados cantavam:

“Quando entro nessa nobre sala

É pelo claro dessa luz

Louvor viemos dar

Ao Coração de Jesus”.

   As mulheres entoavam benditos, os homens soltavam fogos de caibro, servia-se aluá de abacaxi, bolo de puba, pão de ló de goma, sequilhos e biscoitos. Tudo modesto e exíguo. Porém, não existia felicidade terrena maior do que aquela.

   No Natal, o Sagrado Coração ficava um pouco esquecido e desprestigiado. Minha avó só cuidava do Jesus Cristinho, um meninozinho de madeira, rosado e risonho, vestido numa camisa de seda, esculpido lá longe em Portugal, e recebido de presente da nossa tia-avó Nizinha. Diferia de todos os Meninos-Deus que conhecíamos, por ser igual a nós. Debaixo do vestidinho rendado, lá entre as coxas, tinha como todos os meninos um pinto e dois ovinhos. Minha tia Alzenir achava uma profanação e tentava por todos os meios esconder a sexualidade do Deus Menino. Pensou em mandar castrá-lo, livrando-se da nossa curiosidade. Todas as vezes que passávamos diante da lapinha, levantávamos a saia do Menino e olhávamos o seu sexo, comparando com o nosso. Era difícil imaginar que aquele camarada deitado na manjedoura de palha, em tudo semelhante a nós, crescera e se tornara o Senhor pregado logo acima na parede, vigiando-nos com os seus olhos bondosos, mas severos.

   Minha avó confeccionava os enfeites da lapinha com lã de ciumeira e de barriguda. O tempo livre de que ela dispunha, entre os trabalhos e as rezas, ocupava no artesanato minucioso, dando vida a carneiros, bois, burros e camelos. As figuras de José, Maria e dos Reis Magos, de louça modesta, eram as mesmas dos outros anos. Mais bonita que a lapinha da nossa avó, só mesmo a das irmãs do alfaiate Zé de Rita, famosas no Crato.

  O ano tornava-se curto para elas construírem a cidade cenário que ocupava quase uma sala.  Havia de tudo naquele universo miraculoso: uma Jerusalém reproduzida, montanhas, lagos com cisnes e peixes, exércitos de soldados romanos, vilas, currais, bichos domésticos e selvagens, florestas, campos, pastores e pastoras em profusão, anjos e santos, tudo distribuído nos três níveis: o superior divino; o intermediário e o terreal. Era impossível imaginar-se alguma coisa que não estivesse representada ali. Uma vez, juro, cheguei a avistar uma Marilyn Monroe de papel, seminua, pendurada no galho de uma árvore. 

  O cinema trouxe ao Crato o glamour hollywoodiano e a fantasia dos natais com neve e pinheiros. As lapinhas perderam prestígio, como o catolicismo. O cineasta italiano Federico Fellini anunciou o fim da mitologia cristã, mas teimei em saudar o Jesus pagão da minha infância, em teatro e música, numa festa batizada com o nome de Baile do Menino Deus. Um dia, convidaram-me para conversar com uma turma de colégio de classe média, no Recife. A escola decidira fazer um espetáculo de Natal e os meninos, em torno de vinte, escreveriam o texto.

  Queriam minha ajuda, um empurrãozinho. Aceitei e fui ao encontro. Eram crianças inteligentes, com certa automação dos jogos de computador e vídeo games. Propus um começo. Anotaríamos a lista dos personagens do Natal, os mais importantes. Gritaram todos ao mesmo tempo. Pedi ordem. Surgiram os nomes, as figuras famosas das decorações natalinas dos shoppings: Papai Noel, o trenó, as renas, a árvore de natal, a neve. Estranhei as respostas. Insisti. Lembraram os gnomos, os duendes, a oficina de brinquedos do Gepeto e os anõezinhos de Branca de Neve. Assustei-me. Não acreditava no que ouvia. Não é possível! Quem são os verdadeiros personagens da festa de Natal, aqueles, sem os quais nada teria acontecido? Todos concentrados. Espera aí… Espera aí… E nada. Não vinha um nome. Apelei. Lembrassem pelo menos do personagem mais importante, o que deu origem à noite de Natal. Por fim, um geniozinho gritou: Já sei! Já sei!

  Que alívio!

  E com ar vitorioso anunciou:

  – O peru da Sadia.

janeiro 07, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 


Sivuquiando - Com Beto Miranda e grande elenco

janeiro 07, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

Por Erico Sátiro, Pesquisador Musical 
 
  Em 1951, com apenas 20 anos de idade, o sanfoneiro Severino Dias de Oliveira, o popular Sivuca, gravou seus primeiros discos de 78 rotações. Entre essas gravações iniciais, estava sua endiabrada versão para o “Frevo dos Vassourinhas” (Mathias da Rocha), um dos temas mais conhecidos do ritmo pernambucano. 

   Em seus mais 50 anos de carreira, o saudoso Sivuca passeou com desenvoltura por diversos estilos musicais, do forró ao jazz, do choro à bossa nova, mas sem jamais relegar o frevo, influência direta de Recife em sua formação profissional. Prova disso são os 4 volumes da série Forró e Frevo, lançados pelo músico paraibano na década de 80. 

Beto Miranda, autor de de Sivuquiando

   70 anos após a gravação de seu primeiro frevo, o Maestro da Sanfona não poderia receber homenagem mais adequada por parte do poeta, cantor e compositor paraibano Beto Miranda, que criou “Sivuquiando”, música instrumental à altura do homenageado, mestre em executar frevos sanfonados. Para interpretar “Sivuquiando”, Beto escalou uma verdadeira seleção de músicos que tiveram ligação pessoal e profissional com Sivuca: o Maestro Chiquito, lenda viva da música paraibana, conduzindo a Orquestra Metalúrgica Filipeia; no solo de sax, o também Maestro Spok, um dos maiores nomes do ritmo na atualidade; e na sanfona, o não menos talentoso Beto Hortis, o “Filho de Camaragibe”.

   A música chega às plataformas digitais nesta primeira semana de janeiro e também está inserida em um projeto de Beto Miranda para lançamento de um CD físico, juntamente com outras canções autorais. 2022 está apenas iniciando, e que ele transcorra com a mesma alegria e energia de “Sivuquiando”!

janeiro 07, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


 

São José do Egito celebra o cantador Louro do Pajeú

janeiro 07, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


   Para comemorar o nascimento do poeta Lourival Batista – 6 de janeiro – está sendo realizado no Sítio Santa Helena, em São José do Egito, Sertão do Estado, o festival ‘De Repente Louro’. O evento foi aberto nesta quinta-feira e vai até o domingo (9).

   Com as conhecidas restrições impostas pela Covid-19, o evento que sempre ocorre em praça pública e atrai uma multidão, teve de ser reestruturado. Por isso, aconteceu numa área privada, ao ar livre e com rígido controle de acesso. 

  Só com a apresentação do comprovante de vacina, as pessoas são autorizadas a entrar na festa, que neste ano tem formato semelhante ao Festival Zeto: udistoque pajeuzeira, anualmente realizado em meados de julho.

  Outra característica do evento deste ano é a participação solidária. Com um mínimo de patrocínio, que garantiu apenas a infraestrutura básica, a exemplo de som e iluminação, o De Repente Louro, só foi possível porque os artistas se prontificaram a se apresentarem sem recebimento de cachê. Atração à parte é a presença da conhecida Rural, de Roger de Renor e Niltinho.

  Organizadora do festival, a cantora Bia Marinho, filha do homenageado, revela o reconhecimento e o carinho do povo pelo poeta. 

  “A festa só está acontecendo por conta do apoio dos amigos, que louvam a contribuição de Louro para a poesia e o Pajeú”. E acrescenta: “Aqui não vale a história de que santo de casa não faz milagre. Louro é idolatrado pelas pessoas”.

 Também organizador da homenagem, o poeta Antônio Marinho – do grupo Em Canto e Poesia – destaca um dos objetivos do evento, que é ao mesmo tempo revisitar o passado e abrir perspectivas para continuidade da produção poética. 

  “Não tem sentido ficar só louvando o passado, como não tem sentido achar que está se fazendo uma coisa sem passado. O festival cumpre o papel de ponte entre a tradição e a contemporaneidade”, arremata Marinho.

   Na abertura, nesta quinta-feira (6), aconteceu o lançamento do livro O Aventureiro e o Boêmio – sobre Lourival e Pinto do Monteiro –, de autoria de Marcos Nunes Costa e Raimundo Patriota, que é filho de Louro. 

  Ocorreu ainda mesa de glosas, cantoria de duas duplas de violeiros, dos grupos As Severinas e Em Canto e Poesia, do sanfoneiro Douglas Silva, do cantor Val Patriota e da cantora Bia Marinho.

   Nessa sexta-feira (08), o poeta Eugenio Jerônimo faz recital e o cantor Zé Linaldo lança o CD Um Pé de Tempo. Durante os outros dias diversos artistas, que vão aderindo ao festival, passarão pelo palco.

   Louro do Pajeú – Lourival Batista Patriota (Louro do Pajeú) nasceu em São José do Egito em 1915 e faleceu em 1992. 

 Considerado um dos maiores repentistas da história protagonizou célebres pelejas com outro ícone da cantoria de viola, o paraibano Pinto do Monteiro.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Ademar Rafael - Crônicas de Bem Viver

dezembro 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Ademar Rafael
HISTÓRIA CLARIFICADA



  O incansável pesquisador e escritor Fernando Pires, funcionário aposentado do Banco do Brasil e internauta desde os primórdios da rede mundial dos computadores, entrega para esta e para as gerações futuras uma obra digna de todos os adjetivos de qualidade. O livro “Afogados da Ingazeira – Páginas da sua história” integrará o rol das publicações obrigatórias em todas bibliotecas que queiram informar com exatidão os fatos históricos da região em horizonte temporal distante. É uma obra candidata a seguir o caminho do sucesso obtido com “Afogados da Ingazeira – Memórias.”

   Aqui destaco as observações de uma amiga e três amigos e colegas do BB, sobre o livro. Elvira Siqueira nos diz: “O carinho que Fernando dedica à sua terra natal é indizível. Ele investiga, analisa, registra, com riqueza de detalhes, tudo que está a seu alcance, desde ao primeiros sinais, as primeiras casas, os primeiros eventos, como tudo começou e como foi evoluindo até chegar aos dias atuais.” Mauro Bastos atesta: “Trata-se de um livro indispensável não só aos filhos dessa terrado Pajeú, mas, igualmente, a todos aqueles que quiserem conhecer a história de uma região abençoada do estado de Pernambuco, região fértil em bravura, determinação e acolhimento.” Milton Oliveira garante: “Assim como aconteceu com o livro anterior de Fernando Pires, este se esgotará em pouco tempo. Li-o e fiquei impressionado com tantos detalhes preciosos e curiosos, que, graças a Deus, não ficarão esquecidos sob a poeira do tempo.” Célio Pereira assegura: “Desta feita Fernando Pires se vestiu com um escafandro, e mergulhou o mais profundo para buscar o tesouro que o mar escondia há dezenas de anos, encontrado um baú de fatos históricos por demais significativos para os filhos da terrinha.” Concordo com todos.

   Deixar de ler este livro é abdicar do direito de conhecer nossa história, inteligentemente ordenada, descrita em formato claro e fidedigno. O autor, com a ética que o caracteriza, conta os fatos como eles aconteceram, as “Notas do Autor” sevem para clarear o tema, jamais alterar seu conteúdo.

Flávio Leandro - Pra mim, 2022 será o ano da ressignificação!

dezembro 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

Tudo que aconteceu nos dois anos anteriores, tudo, é um grito desesperado do planeta... e é consequência direta de meu modo de consumir. Então, neste futuro que irei abraçar quero embalar meus hábitos lá no passado. É lá, no passado dos meus avós, que mora a minha paz, a minha saúde e a saúde do meu planeta. Claro, no passado dos meus avós não mora a ciência dos meus netos, sendo assim, vou usar a ciência dos meus netos no passado dos meus avós, quando ela não impactar negativamente na tão fragilizada existência do nosso planeta.
Quero prestar mais e mais atenção no que consumo: não aceitarei comprar leite com peróxido, goma com formol, manteiga da terra, nata e azeite com óleo de soja, café com misturas mil, queijo batizado, milho, feijão, hortifrutícolas e afins, cujos tratos são a base de veneno e outras firulas.
Chega de enganação!
Fala-se muito em honestidade e a primeira pessoa com quem sou desonesto é comigo mesmo.
Como consumidor eu posso mais do que como eleitor, pois o voto é sazonal e meu consumo é ininterrupto! Mas posso usar o meu voto pra forçar congressistas a criarem mecanismos que melhorem a qualidade do alimento dos que, diferente de mim, não podem escolher, consequentemente, melhorar a qualidade da produção do alimento ao meu dispor, que resultará na melhora do planeta.
Quero descascar mais, desembalar menos...dar luxo, ao meu lixo!
Quero sim... vou sim, usar a Internet do futuro dos meus netos, mas de uma forma responsável, que me faça sobrar tempo pra eu poder usar bem o passado dos meus avós, e assim me aproximar mais de mim, e não da máquina.
Quero me levar para um passeio, sem pisar o pé no freio, sem pensar no fim...vasculhar minhas gavetas, botar tinta na caneta do meu coração, escrever um "eu me amo", cada vez que a voz do mundo me disser que não. Ler meus livros, plantar flores, pra te dar quando tu fores, flor, no meu jardim, acordar essa pessoa, que andou vagando à toa, mas que mora em mim...
Sim,
"Quero meu Forró, morando na literatura... desenhando a arquitetura da cultura popular."
Claro, quero (muito) derrubar a mediocridade que se instalou no país!
Feliz 2022!


Flávio Leandro

Filme produzido no interior da Paraíba vence Festival Internacional de Cinema Infantil

dezembro 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Do PBAgora

    “A Botija é uma tentativa de fazer um resgate histórico da cultura da oralidade que vem se perdendo ao longo do tempo, dessa forma mantendo viva a tradição de propagar conhecimentos presentes no imaginário popular por meio de narrativas e produções culturais”, falou a diretora.

   A animação foi produzida a partir de contemplação na lei Aldir Blanc e a produção foi apoiada pela Prefeitura Municipal de Boa Vista/PB por meio da Secretaria de Educação, Turismo, Cultura e Desportos. A produtora responsável pelo filme foi a Black Raven.

  Com produção de Flávio Alex Farias, dublagem de Rebeca Soares e Rou Tavares e ilustrações do boavistense William Andrade, ‘A botija’ em seu enredo conta a história de Lavínia, uma menina muito curiosa, que viaja no tempo através das memórias do seu avô. Nesse episódio, Manoel conta a história de um homem que se aventura em busca de uma botija que recebeu em sonho.

  “Aproveito para destacar a importância da participação da animação em um festival desse porte, uma vez que a produção consegue uma propagação mais abrangente. Na verdade, não há palavras que consigam expressar fielmente a sensação que essa vitória nos trouxe, então, gostaria apenas de agradecer imensamente a toda equipe que fizeram um excelente trabalho ao dar corpo, voz e vida ao roteiro”, conclui Menara.

Copiado de https://www.pbagora.com.br/noticia/cultura/filme-produzido-no-interior-da-paraiba-vence-festival-internacional-de-cinema-infantil/

O eterno acordeon de Sivuca

dezembro 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


   Paraibano que transformou o lugar do acordeon brasileiro dentro da cultura regional e nacional, Severino Dias de Oliveira (1930 - 2006), ou Sivuca, como ficou conhecido, contribuiu para a cultura regional ao levar a expressão da sanfona para os espaços das sonoridades populares, e que fez do instrumento sua extensão, como forma de enaltecer suas origens!

   Ao ter seu primeiro contato com a sanfona, aos 9 anos de idade, Sivuca não demorou muito para encontrar ali sua verve artística, pois já era um nome presente em feiras e festas populares, o que o levou a se mudar para Recife aos seus 15 anos, onde trabalhou na Rádio Clube de Pernambuco e recebeu o apelido de Sivuca.

   Assim, as portas para o sanfoneiro seguiram se abrindo, e logo em 1951 veio a lançar uma de suas clássicas faixas, ‘Adeus, Maria Fulô’, canção que compôs junto de, a esse momento seu mestre, Humberto Teixeira, se tornando um marco para o baião no país.

   Ao morar em Nova Iorque por um período que perdurou de 1964 a 1976, Sivuca, que se encontrava em uma crescente visibilidade, encontrou a possibilidade de desconstruir a visão da música clássica frente ao acordeon nos espaços dos conservatórios, pois até então era visto apenas como uma forma de matar a solidão dos fazendeiros, não interagindo com a sonoridade da elite.

   Tal feito levou o arranjador e multi-instrumentista a trabalhar para nomes como Miriam Makeba, assumindo sua direção musical, e Harry Belafonte, que apesar do grande impacto para sua carreira, Sivuca não se via confortável para fazer aquilo que sabia, que era tocar a música de sua terra, o sentimento do nordeste.

  Foi então que o acordeonista conheceu sua companheira Glória Gadelha, elo que o trouxe de volta para solos brasileiros, material e espiritualmente, o presenteando com a composição de uma das jóias do forró brasileiro, ‘Feira de Mangaio’, canção que explodiu na voz de Clara Nunes!

  Sivuca viveu com o coração em festa, levando sua feliz sanfona estrada afora, e hoje, 15 anos de sua passagem, sua imagem permanece entranhada dentro da música brasileira, como quem inseriu o acordeon como instrumento presente na cultura popular, e que foi capaz de sentimentar em forma de som a riqueza de suas raízes!

  Para além da música, Sivuca enalteceu a cultura regional nordestina, e confrontou toda forma de negligência que a sanfona sofria dentro do cenário da música clássica e internacional, colocando o ‘instrumento do mato’ para dentro de conservatórios de música do mundo!

Copiado de https://immub.org/noticias/o-eterno-acordeon-de-sivuca

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A amizade e Feliz Ano Novo

dezembro 30, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Maciel Melo / Foto: Claudio Gomes

A amizade

Os verdadeiros amigos 
não guardam rancores, 
mágoas, nem desafetos, 
e muito menos avareza. 
Os verdadeiros amigos 
guardam saudades, 
lembranças de momentos sublimes, e mesmo distantes mantém o laço afetivo de uma grande amizade. 
Os verdadeiros amigos acreditam na coletividade, na amplidão do ser, no poema que sonha, que ri e que chora, no tesão do agora, no amargo-doce de amar a vida. Os verdadeiros amigos não deixam nada pra depois. 
Os verdadeiros amigos não nos esquecem jamais.

Maciel Melo.

Um feliz ano novo pra você, e todas as pessoas que você ama.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Versos de Saudade - Alexandre Morais

dezembro 27, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Saudades
Versos de Alexandre Morais
Artes de Marcos Pê

Muitas mulheres me amaram
E eu também as amei
Mas por razões que eu não sei
Todas me abandonaram
Umas até retornaram
Mas por virem sem vontade
Foram com facilidade
E por esse vai e vem
Fiz do peito um armazém
Pra empaiolar saudade


Algumas, algumas vezes
Voltaram mais de uma vez
Com muitas fiquei um mês
E com poucas fiquei meses
Mas meus costumes burgueses
Eram pobres na verdade
E o banco da mocidade
Empresta, mas faz cobrança
Fiz do peito uma poupança
Pra depositar saudade


De apaixonado eu fiz fama
Mas no amor só sofri
E saudades já senti
Três vezes da mesma dama
Se ia, ficava o drama
Ao voltar, com falsidade
Trazia só a metade
Da que veio no começo
Fiz do peito o endereço
Da morada da saudade


A saudade é troço ruim
Pesado de carregar
Poucos podem suportar
E muitos pedem o fim
Quem veio por onde eu vim
Sofreu seca e tempestade
E sabe que a liberdade
Não é mar é uma ilha
Fiz do peito uma rodilha
Para o pote da saudade
 
Nessa vida o que se planta
Nem sempre é o que se colhe
Por mais que se adube e molhe
Tem talo que não levanta
Como eu, quem se encanta
Com beleza e quantidade
Esquece da qualidade
E foi não foi quebra a cara
Fiz do peito uma coivara
Com garranchos de saudade


Quando só na noite fria
Ainda escuto o barulho
Que o silêncio do orgulho
Grita na mente vazia
Comprei tudo que eu queria
Mas vendi a lealdade
Comparado à mocidade
Quem foi moto hoje é lambreta
Fiz do peito caderneta
Pro fiado da saudade

Como autêntico boêmio
Em bares eu fiz pernoite
E enquanto existisse noite
Uma taça era o meu prêmio
Agora sofro abstêmio
No balcão da crueldade
E o prêmio é uma grade
Que o coração rodeia
Fiz do peito uma cadeia
Para aprisionar saudade

Na igreja eu pouco fui
Nunca pisei num altar
Porque pensava: casar
Em nada nos evolui
Mas a casa quando rui
É outra a realidade
E solidão quando invade
A roda roda ao contrário
E eu fiz do peito um rosário
Só com contas de saudade

 

domingo, 26 de dezembro de 2021

Pelejas do Pajeú marcam os últimos lançamentos da Cepe Editora em 2021

dezembro 26, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Por Cleide Alves

   Na próxima quinta-feira, dia 30, a Cepe Editora lançará no município de Itapetim, Sertão de Pernambuco, três títulos que evidenciam a produção poética nordestina. Dois deles saem pela Coleção Pajeú e remetem a nomes referenciais do repente, cujos centenários de nascimento são comemorados em 2021: Pedro Amorim (Poeta dos Vaqueiros) e Dimas Batista (Obras Poéticas). O terceiro livro, O Aventureiro e o Boêmiotem coautoria do professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Nunes do escritor e advogado Raimundo Patriota, filho de Louro do Pajeú. O lançamento acontece às 19h, na Praça Rogaciano Leite, dentro das comemorações do aniversário da cidade, que completa 68 anos dia 29.



  O amor, o vaqueiro aboiador, a vida no Sertão, a saudade dos pais falecidos e a tristeza pela morte prematura de uma filha serviram de mote para Pedro Amorim escrever as poesias e os sonetos que compõem O Poeta dos Vaqueiros, agora relançado pela Cepe Editora. Nascido em Desterro (PB), em 18 de setembro de 1921, Pedro Vieira de Amorim migrou para Itapetim (PE) ainda criança, onde faleceu em 2011. Tinha na agricultura sua atividade principal, mas era famoso pelas poesias, cantorias e o bom humor.

   Com 116 páginas, o livro está dividido em duas partes: a primeira tem 18 poesias e a segunda, 12 sonetos. O Poeta dos Vaqueiros, publicado originalmente em 1988, ganha nova impressão com acréscimos de versos que Pedro Amorim fez depois, muitos ainda sob o impacto da perda da filha Cléfira. “Meu pai tinha como sonho a reedição deste livro”, informa Bartira Amorim, em nota de agradecimento na abertura do título.

  “O Poeta dos Vaqueiros é a revelação criadora do seu mundo sertanejo, vaqueiro e poeta. Seus versos têm a sonoridade do aboio dos vaqueiros e a virilidade da voz do Sertão”, destaca o advogado José Rabelo de Vasconcelos, no prefácio.



  

  Obras Poéticas - Vindo de uma tradicional família de cantadores, irmão de dois outros nomes estelares da poética sertaneja (Lourival/Louro do Pajeú e Otacílio), Dimas Batista é homenageado pela Coleção Pajeú com a coletânea Obras Poéticas. Cantador, violeiro e repentista admirado por artistas e intelectuais, como Alceu Valença e Ariano Suassuna, foi considerado um metrificador de raro talento e o mais erudito entre os poetas populares.

   “Atrevo-me a reputá-lo como o poeta mais caprichoso que Itapetim ofereceu ao mundo até a atualidade. Seu verso era lapidado, feito sob uma medida ímpar, farto em rima e rico em oração, tal era seu capricho na escultura da estrofe”, destaca no prefácio o advogado, poeta e pesquisador itapetinense Saulo Passos.

  Dimas Batista nasceu no povoado das Umburanas, hoje Itapetim, em 21 de julho de 1921. Começou na cantoria aos 15 anos de idade, por mais de 15 anos ganhou o mundo e fez fama com sua arte, sendo vencedor em todas as contendas que participou. Conviveu, fazendo duplas, com nomes fundamentais da chamada “Era de Ouro” da poesia popular nordestina. Grande mestre, tinha predileção por alguns gêneros poéticos, como o martelo, o galope à beira-mar e o quadrão trocado, considerado um dos mais difíceis, além de grande glosador.

  Aos 50 anos de idade, formou-se em Letras, cursou ainda Direito e Pedagogia. Falava com fluência inglês, francês e espanhol. Abandonou a viola e se tornou professor de literatura e língua portuguesa. Com 265 páginas, o livro Obras Poéticas, Dimas Batista reúne mais de 40 textos, entre poesias, sonetos, versos e trechos de livros publicados ainda em vida. Dimas Batista faleceu aos 65 anos, em Fortaleza, vítima de um acidente vascular cerebral, e foi sepultado em Tabuleiro do Norte (CE), onde residia com a família.


  O Aventureiro e o Boêmio - O livro O Aventureiro e o Boêmio tem como principal objetivo registrar a genialidade de dois grandes nomes da poesia popular, Pinto do Monteiro e Louro do Pajeú, que cantaram juntos por mais de meio século. O valor documental do livro é inestimável. Fica guardada na memória a peleja em que os poetas se enfrentavam fazendo ou respondendo a insultos e provocações. “Esses dois poetas não só estão presentes na cultura popular nordestina, mas já foram tema de estudos acadêmicos em grandes universidades, não só no Brasil, mas até no exterior”, diz o professor e escritor Marcos Nunes.

  Pinto Velho do Monteiro nasceu em 1895, a 21 de novembro, na então Vila do Monteiro, na Paraíba. Exerceu várias profissões, em diversas regiões. Foi vaqueiro, soldado de Polícia, guarda do serviço contra a malária no Norte do país, auxiliar de enfermagem e vendedor de cuscuz no Recife, antes de se fixar na viola.

  Já Lourival Batista Patriota, o Louro do Pajeú, nasceu em 1915, a 6 de janeiro, na Vila de Umburanas, hoje Itapetim. No prefácio, o poeta Joselito Nunes descreve os companheiros de tantas pelejas: Sempre que eu encontrava Louro em São José do Egito era de sandálias japonesas, camisa aberta ao peito, um cigarro pendente num canto da boca, uma bengala pendurada num dos braços, um pacote de pão num sovaco e um livro no outro. Já de Pinto ficou uma imagem que publiquei no livro e que chama a atenção pelo inusitado. Ele deitado na cama, onde passaria seus últimos dias, tendo ao lado uma mesinha de cabeceira, sem nenhum frasco ou caixa de remédio, mas sim com uma bisnaga de óleo singer. Alguma coisa alusiva a uma possível máquina de fazer versos que ali repousava”.

   Os primeiros títulos da Coleção Pajeú, criada pela Cepe para dar mais visibilidade à produção poética sertaneja, foram lançados em junho de 2021: Meu Eu Sertanejo, antologia que reúne 40 poemas do compositor e repentista de Serra Talhada Henrique BrandãoRedes de poesia, primeiro livro do poeta Andrade Lima, com cerca de 170 poemas de temáticas diversas; e Mesas da 1ª Feira de Poesia Popular, que registra as poesias improvisadas por 19 poetas que participaram das três mesas de glosas realizadas na feira promovida pela Cepe, em São José do Egito, em 2019.

 

Serviço:

O Poeta dos Vaqueiros (Coleção Pajeú): R$ 30,00

Obras Poéticas (Coleção Pajeú): R$ 45,00 

O Aventureiro e o Boêmio: R$ 40,00 

sábado, 18 de dezembro de 2021

A boa nova para este Natal

dezembro 18, 2021 Por Alexandre Morais 1 comentário

 Uma boa nova foi anunciada. A data é a véspera da véspera de Natal. O local é uma bodega. E todos estão convidados para receber a mensagem. Aliás, a mensagem e o verso.

Nada de profecias. Estamos só anunciando as obras de dois bem feitores. Ou a obra, porque esta eles fizeram juntos. É o lançamento do livro A Mensagem e o Verso, fruto da fé, das reflexões e das artes de Celso Brandão e Ademar Rafael.

Adiantando uma coisinha, o Cultura e Coisa e Tal fez uma pergunta pra cada um. Ei-las, com as respectivas respostas e fotos:

Celso, qual a mensagem do livro A Mensagem e o Verso?

Nenhuma descrição de foto disponível.

É tentar chegar aos corações das pessoas. Posso até está sendo muito pretensioso, mas na verdade todas as mensagens foram inspiradas no texto sagrado e de forma compilada apresentamos uma mensagem de autoestima, tentando levar alimento para alma que muitas vezes está faminta. É um livro pra se ler todo dia, degustando, sorvendo cada partícula.

 Ademar, qual o verso do livro A Mensagem e o Verso?

Nenhuma descrição de foto disponível.

De forma objetiva o verso se faz presente em cada uma das 200 estrofes conectadas com as mensagens bíblicas e os respectivos comentários. No formato subjetivo o verso aparece como a inserção do “doce da poesia” no ácido cotidiano que enfrentamos.

 

 
Agenda aí:
 
Lançamento do livro A Mensagem e o Verso, de autoria de Celso Brandão e Ademar Rafael
Data: 23/12/21, quinta-feira
Hora: 19h
Local: Budega com Prosa (Budega de Diomedes Mariano, Afogados da Ingazeira - PE)